O valor universal da água, no que diz respeito à sobrevivência da Humanidade e à importância que tem por exemplo para as questões energéticas e da regeneração do corpo, obriga a que cada um de nós deva tomar esse recurso como finito e o preserve em todas as formas de utilização. As cidades que o têm como recurso económico e identitário devem saber potenciá-lo como desenvolvimento, contribuindo assim para o desígnio universal. Este é um espaço de estas e de outras águas. De todas as águas.

2010-12-31

Águas Turvas (8): "O povo pode e deve pagar mais!"

O que nos espera dentro de minutos.
Muito actual!

2010-12-24

A Romã e este Tempo

Junto à representação de Jesus Cristo em menino - símbolo maior deste tempo para os cristãos - a importância da romã também é milenar: fruto composto por 80 por cento de água, está associado às paixões, à fecundidade e é um símbolo do ano novo, ao acreditar-se que o ano que chega sempre será melhor do que aquele que vai embora. A coroa de triângulos que forma a romã é a coroa da virtude, do sacrifício, da ciência, da fraternidade, do amor ao próximo; os grãos, envolvidos por uma polpa transparente, simbolizam a união dos homens com energia e força para realizarem o seu trabalho.

2010-12-08

A Garrafa do Futuro

Imagem e texto retirados da edição de hoje do semanário Sol

Cientistas da Cambridge Consultants desenvolveram a i-dration, uma garrafa de água para praticantes de fitness que lhe diz quando precisa de beber água. Através de uma combinação de sensores este aparelho comunica com uma aplicação instalada no seu smartphone. A garrafa mede a temperatura ambiente, quanta água perdeu através do exercício e a quantidade da mesma que já ingeriu. A aplicação instalada no smartphone vai medindo o ritmo cardíaco e a quantidade de esforço que já dispensou no exercício, dizendo posteriormente quando necessita de repor os níveis de água baseada nos dados recolhidos. Caso haja algum desequilíbrio, uma luz azul acende-se a dar a indicação do nível baixo de H2O.

2010-12-05

Caldas da Rainha, de cidade com termas a cidade termal?

Imagem: "Não cuidar do nosso mais notável património é o reflexo espelhado de quem dele não cuida", slide do power-point: lago do Parque D. Carlos I, espelhando os Pavilhões do Parque, Jorge Mangorrinha.

A convite do Conselho da Cidade, ontem estive nas Caldas da Rainha para o segundo debate do ciclo organizado por aquela associação para a cidadania. Partilhei a mesa com o Dr. João de Almeida Dias e o Prof. Fernando Catarino, moderando-nos o Dr. Mário Gonçalves, a quem este tema não é obviamente estranho.
Sob o título "Caldas da Rainha, de cidade com termas a cidade termal?", iniciei esta intervenção com uma pergunta: O que é uma Cidade Termal?
Sabemos como as cidades e estâncias termais, com as suas características próprias, são espaços intrinsecamente de saúde e lazer. Mas há outras coisas, porque através dos tempos ganharam outras funções e outros desempenhos estratégicos.
Na sua essência, o sistema formado pelos recursos naturais e valores patrimoniais constitui um traço estruturante da paisagem e da ambiência das cidades termais. Desde logo, a salvaguarda nas melhores condições do perímetro de protecção termal relativamente às captações de água subterrânea. A determinação, delimitação e fixação dos perímetros de protecção a montante da captação dependem das características hidrogeológicas e constituem actos de natureza complexa. Exige-se que nesses perímetros sejam tomadas as mais exigentes medidas de prevenção e protecção, eliminando ou evitando possíveis focos de poluição. Caso contrário, é posto em causa o futuro da actividade termal, dado que a poluição de um aquífero é, por vezes, irreversível ou de regeneração difícil.
Uma cidade termal é um ecossistema, cujo modelo de desenvolvimento se suporta num recurso essencial – a Água –, que é simultaneamente produto primário, competitividade e marca identitária, traço indelével tanto ou mais do que noutro território, noutra paisagem, integrando, além do mais, recursos abióticos, bióticos e culturais. Trata-se, pois, de um sistema urbano. Não mais um núcleo à parte dentro da cidade. E é como tal que deve ser planeado e vivenciado.

2010-11-26

Os Banhos de S. Paulo e as eleições dos arquitectos

Imagem: jantar do núcleo executivo da lista B às eleições da Ordem dos Arquitectos.

Nem sempre ganha quem tem razão. Esta máxima emprega-se perfeitamente aos resultados de ontem, nos Banhos de S. Paulo, sede da Ordem dos Arquitectos.
A nossa razão, a razão da lista B é a razão desta classe profissional, que não tem o devido reconhecimento público de acordo com a necessidade de intervirmos na sociedade e no território e, também, com o crescente aumento de novos arquitectos, sendo provavelmente a classe profissional que em Portugal mais tem crescido em termos dos números absolutos.
Também grave é o distanciamento entre a Ordem e a classe e a escassíssima adesão de votantes. Tal como dizia uma colega de lista, "a Ordem é repulsiva!".
A Ordem é e vai continuar a ser dirigida por um punhado de gente perfeitamente definida no seu carácter e interesses. Nada semelhante aos que, num gesto de profunda cidadania e generosidade, nada têm a provar, profissional e pessoalmente, e quiseram lançar este grito de mudança.
Os cerca de 30% de nós que votámos e acreditámos neste projecto merecem continuar, porque vive-se um problema estrutural, tal como um outro colega disse há pouco, "deixar a situação como está é totalmente irresponsável, considerando as atribuiçōes que o Estado delega numa Ordem Profissional".
As águas que ainda brotam junto aos Banhos de São Paulo continuarão ainda mais turvas, durante os próximos três anos.

2010-11-24

A Caminho das "Águas" de Borba

Imagem: Pedro Partidário, António Champalimaud Barahona e Jorge Mangorrinha, no passado sábado em Lisboa, no jantar de 20 anos de curso.

Há colegas que nos ficam. E, para além disso, há colegas que são mais do que isso, são amigos na verdadeira acepção da palavra, mesmo que os momentos de convívio não sejam muitos. Mas há, em cada momento em que nos cruzamos, um sinal que é mais do que um simples momento de cortesia.
Nesta imagem recebida por via do facebook, considero-me muito bem acompanhado pelo Pedro e o António, respeitando a ordem da esquerda para a direita, claro está. Concerteza que outras fotos virão, com outros colegas de quem também tenho boas memórias.
E agora, meus caros, há que trabalhar, antes da próxima paragem em ano celebrativo 21, tão cabalístico como desejado. Em Borba, segundo rezam as crónicas mais recentes. Se de águas trata este blog, o vinho parece não poder deixar de estar nas bocas, ou melhor, por agora nas pontas dos dedos dos meus colegas mais intervenientes. Será que aquela novel cidade apenas tem esse atractivo turístico? A Lina que se cuide!

2010-11-21

FAUTL 1985-90

Imagem: Benção das Fitas de 1990, no Estádio 1.º de Maio, em Lisboa.

Ontem, realizou-se o jantar dos 20 anos do curso da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, no qual revi muitos daqueles que me acompanharam no mítico convento do Chiado, entre 1985 e 1990, numa época bem diferente da actualidade, designadamente quanto às condições e ferramentas de estudo.
Elas e eles iam chegando. Uns mais reconhecíveis que outros e cujos nomes foi o principal problema. Da cerca de centena de nós que terminámos o curso, estivemos em Monsanto cerca de 60, sendo que o tempo pareceu curto para pôr os temas em dia e relembrarmos algumas águas passadas. Ficou a esperança de, antes dos próximos 20 anos, podermos voltar a realizar um novo encontro, sendo que, já hoje, alguns se adiantaram a propor para o próximo ano, talvez um almoço para que a tarde nos faça render mais as nossas conversas.
Parabéns à organização!

2010-11-19

Uma cidade não nasce nem cresce numa folha em branco

Imagem: pormenor de parede exterior dos Pavilhões do Parque, nas Caldas da Rainha

Cidade que das águas nasceu e cujo território modelou o seu assentamento, será que Caldas da Rainha é hoje uma cidade em busca do seu posicionamento estratégico? Será que algumas decisões futuras e próximas contribuirão para esse desígnio?
Em 2010, afinal o que quer ser esta cidade? Nela, qual o papel dos vários temas sujeitos a este ciclo de debates? Será que pode ser uma cidade hospitalar ou de saúde, uma cidade com termas ou termal, uma cidade de cultura e turística? Qual o papel da revisão do PDM na assunção de um conceito identitário único ou misto para a cidade?
Há alguns anos, dizia-se que a globalização iria destruir as diferenças locais, homogeneizando o espaço e a sociedade. Hoje, o debate não se coloca mais nestes termos. Tanto as peculiaridades locais como a própria globalização económica passou a valorizar as diferenças dos lugares, fazendo desta diferenciação um atractivo para o capital económico das cidades.
Ao analisarmos uma cidade, é preciso vê-la na sua dupla dimensão, de cidade que se projecta e antecipa – ou seja, a cidade que se sonha – e de cidade que se concretiza – ou seja, a cidade construída e vivenciada, que nem sempre é a que foi sonhada ou projectada.
A cidade, entre projectos e políticas, ora se parece transformar de uma forma vertiginosa, ora parece permanecer quase imutável na sua morfologia e na sua identidade. São os tempos da cidade. Mas também é verdade que, tal como um relógio avariado está certo duas vezes por dia, a cidade tem sempre um espaço cujo quotidiano é distintivo, ou seja, o seu tempo certo.
Aliás, o tempo das cidades é algo a que também podemos associar ciclos de vida.
E se as identidades de uma cidade fazem parte do seu tempo certo, mesmo a perda momentânea da sua função mais distintiva lhe não deve perder a identidade. Por exemplo, a cidade inglesa de Bath sobreviveu exportando a sua imagem de cidade termal, entre 1976, quando as suas termas fecharam por inquinação das águas, até à abertura do novo balneário termal, em 2006. E isto foi possível, porque manteve a sua imagética urbana e turística associada a essa identidade, mesmo sem ter nesse largo período um balneário em funcionamento. O tempo aqui, associado a esta imagética, parece que não parou.
Mas afinal quais são as ideias necessárias para as Caldas e os vectores que, hoje em dia, vão tecendo dinamicamente as relações entre a cidade existente e a cidade desejada? Creio que são exactamente as decisões futuras que condicionarão o percurso desta cidade: será que é uma cidade fechada em si mesma, ou uma cidade que dialoga, a uma outra escala, com a região envolvente, dando as mãos a outros municípios na partilha de equipamentos, sejam eles de saúde ou industriais, por exemplo?
Caldas já não é a mesma cidade de há 50 ou 100 anos, nem por exemplo há imprensa satírica como há quase 100 anos para contar com humor toda esta indecisão que dá mote ao debate que se segue: um hospital novo ou ampliado? Ou mesmo à indecisão sobre o futuro do termalismo local.
Efectivamente, há quase 100 anos, quando tinhamos um hospital civil na periferia da então vila, também tinhamos um jornal satírico, pelos vistos desconhecido de muitos e que, provavelmente, aqui revelo como mais um jornal caldense, O Viroscas, saído a 11 de Outubro de 1914. No seu primeiro número intitulou-se um “semanário imparcial com pretensões a humorístico”. É, provavelmente, o único jornal caldense integralmente de tom satírico. E, seguramente, bem falta hoje nos faz!
Voltando ao tema central do debate que se segue, nos anos 50 em termos internacionais um hospital planeava-se quase sempre renunciando-se aos terrenos urbanos. Fiz essa pesquisa recentemente num universo considerável de hospitais portugueses e estrangeiros.
Um hospital era descrito como um organismo mutável, não só devido ao progresso das ciências médicas, como também às novas necessidades sociais, às quais devia ajustar o seu mecanismo. Em termos internacionais, a construção de um hospital moderno, segundo o médico Albert Marechal e o arquitecto J. Minguet, já apresentava um grande número de problemas, tanto no plano urbanístico, como no plano funcional, defendendo esses especialistas que cada vez mais se tomaria em conta que se não podia nem devia dissociar as três missões de um hospital de dimensões consideráveis, como a terapêutica, a investigação e o ensino.
Nessa época, nas Caldas, o Hospital de Santo Isidoro apresentava-se, segundo o plano urbanístico de Paulino Montez, antiquado e a necessitar de ser substituído por um novo edifício. E Paulino Montez é bem objectivo: “a localizar, como o existente, em terreno fora do aglomerado, junto da via envolvente”. Contudo, a construção do novo hospital, na década de 1960, no centro urbano e num local de diminutas acessibilidades, como ainda hoje se torna evidente, veio a revelar-se polémico, que nem mesmo o Plano de Montez impediu.
Polémico designadamente entre a população caldense. Em 1958, dois artigos publicados no Diário Popular, de 17 e 19 de Novembro, documentam o ambiente de insatisfação quanto à aplicação financeira do legado da Condessa de Bertiandos, na construção do novo Hospital Sub-Regional. Lembre-se que esse legado deveria “ser aplicado inteiramente no melhoramento e reapetrechamento, tão necessários, das instalações do estabelecimento termal” (Diário Popular, de 17 de Novembro de 1958, p. 11). A população discordava da pretensão em construir o Hospital na Mata, já que a própria Misericórdia possuía terrenos em redor do Hospital de Santo Isidoro, “na periferia da cidade, como convém” (Diário Popular, de 19 de Novembro de 1958, p. 8).
O Hospital Sub-Regional das Caldas da Rainha nasceu assim envolto numa polémica local. O seu projecto a merecer parecer do Conselho Superior de Obras Públicas data de 1953. Este hospital foi pensado para atender às necessidades de assistência hospitalar da sub-região, como também para prestar apoio ao hospital termal, entidade esta que foi a que promoveu a construção em terrenos seus. Nos termos da Lei 2011, de Abril de 1946, que definia na altura a organização hospitalar do país, a construção de hospitais sub-regionais dever-se-ia fazer em regime de comparticipação entre a entidade que promovia a sua construção e o Fundo de Desemprego e, por isso, haveria sempre que atender, na elaboração dos respectivos projectos, aos recursos de que essas entidades pudessem dispor. Neste sentido, a lotação deste hospital, tendo em atenção a população à época do concelho, deveria ser de 76 camas, mas com a possibilidade de passar a 100 em 1971, o que conduziria a uma construção em duas fases. Porém, atendendo a que este hospital deveria ser um complemento do hospital termal foi resolvido que a construção se efectuasse numa só fase, pelo que a previsão em projecto passou para 95 camas. As ampliações far-se-iam anos mais tarde, como sabemos.
Foi esse princípio de articulação estreita com o hospital termal, tendo em vista captar o legado que fora apenas previsto para este, que motivou a opção em construir o novo hospital no centro da cidade. Essa articulação do novo hospital com o hospital termal, apesar de um recuo relativamente à iniciativa de final do século XIX, suportou-se também na ideia de se criar nas Caldas um Centro Nacional de Reumatologia, mas tal nunca viria a acontecer.
Aliás, o médico local Mário de Castro, em artigo datado de Janeiro de 1963, referia que: “o Hospital Termal Rainha D. Leonor, unidade assistencial de clínica hidrológica, está desactualizado, muito abaixo das suas tradições, possibilidades assistenciais e do papel que lhe deve ser atribuído na hidrologia nacional”. Lembro que, em 1962, se dera a passagem deste hospital termal a unidade em funcionamento permanente, durante todo o ano, e designado Hospital Central da Zona Sul, na sua qualidade termal.
Portanto, estas realidades, quanto à necessidade da sua modernização e ao mesmo tempo com responsabilidades acrescidas, induziam uma desejável articulação do hospital termal com o investimento que na época era feito ali ao lado, com a construção do novo hospital sub-regional, o que porém não aconteceu.
Hoje, como contributo para o debate, creio que o futuro deste edifício podia passar por uma ponderação que incluisse vários factores, mas acho que tem sentido recuperar a sua origem programática e enquadrá-la numa forte ligação às termas, independentemente de ser ampliado ou não. É esta ideia que quero deixar e confio no saber e na experiência do vasto corpo clínico desta unidade para consubstanciá-la e verificar a sua pertinência no quadro da decisão que se procura. Acho que podemos aproveitar esta singularidade como elemento programático, porque a relação com o termal é um factor inteligente de optimização das preexistências e dos investimentos públicos que em 50 anos ali foram realizados.
A nova entidade física seria repensada como hospital que integraria uma componente reumatológica no seio das existentes, que ainda hoje seria único, tal como inicialmente defendia o Dr. Costa e Silva. E até se cumpriria, finalmente, o legado da Condessa de Bertiandos.
Admito que na análise a este tema não estão todos os dados lançados, entre novo e ampliação. Mas creio que a hipótese que lanço se deveria pôr na mesa, em qualquer cenário, identificando em ambas as soluções: os pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades, e só depois decidir-se entre uma ou outra, ou mesmo por uma solução mista.
Neste momento, como sabemos, só uma solução se encontra prevista pelo Ministério da Saúde, recentemente.
Creio que cabe aos actores locais defenderem a melhor solução junto de quem de direito.
É que uma ideia para este edifício e para este vasto património passa por um sinal que todos devemos dar relativamente ao balanço a fazer entre partes dificilmente conciliáveis se os actores apenas olharem para um dos lados do problema.
Potenciar este centro urbano como parque de saúde, integrando aspectos patrimoniais, de cultura e Natureza, é apostar numa sociedade criativa, desde logo nos conceitos que se tem para o futuro de uma cidade. É preciso que a economia criadora seja valorizada através, por exemplo, da acção junto do património e do reforço das identidades locais, que tem consequências efectivas no desenvolvimento.
Nesta nova condição urbana revelam-se identidades plurais e práticas inteiramente novas de apropriação material e simbólica do espaço e do tempo. A diversidade cultural, a multiplicidade de usos urbanos e a difusão de tecnologias de comunicação rasgam as fronteiras do quotidiano dos lugares. Para além do Estado e do Mercado, há novas dimensões de pensar a construção de referências para a vida em sociedade. É nesse sentido que a retomada do papel da sociedade civil como instância política é necessária e inadiável.
A cidade, dizia Shakespeare, são as pessoas nos seus conflitos, medos, alegrias e paixões. E as pessoas para serem plenas na cidade precisam simultaneamente das palavras e das acções. A cidade significa, por excelência, o reino da comunicação, da acção e de toda a complexidade social marcada por diferentes protagonistas. É o território como condição da democracia. Uma estrada para a cidadania. Pelo que o território tem de ser qualificado.
No território, é possível reconhecer o sentido dos interesses colectivos, promover pertenças e mobilizar forças plurais de mudança. É no território que nos fazemos sujeitos da política e portadores de projectos de sociedade. O território significa, portanto, uma marca e uma matriz daquilo que verdadeiramente somos e do que queremos para as novas gerações de cidadãos. Sendo assim, há uma dimensão fundamental entre a prática cidadã e o uso do território como condição da democracia.
Como a cidadania depende da qualidade do espaço público para sua efectivação plena, o território depende da política para seu uso pleno em termos de sociabilidades inovadoras.
Mas atenção que há que escutar os sons da cidade, os seus risos e dores. E sabemos como muito desses sons emitidos são ignorados por alguns actores da cidade. Escutar é entender. Entender para transformar.
Tal como entender o território em presença, entender o papel da comunidade local é promover o debate, com base numa rede, onde o interesse maior seja o interesse comum. Para o pensador francês Michel Foucault, o poder exerce-se em rede. O poder é relação; logo, onde há poder dos cidadãos, há resistência. A identificação dos problemas e o encontro de soluções não são propriedade do Estado central e autárquico, pelo que a sociedade e a sua participação cidadã são vectores cada vez mais fundamentais. O papel de um Conselho da Cidade pode ser visto numa lógica estratégica de gestão de fronteiras, de elos de ligação, de gestão de conflitos, de relações e de interfaces.
Estas Caldas da Rainha podiam ter há muitas décadas apostado em eixos estratégicos tão evidentes com base nas suas características e heranças naturais e culturais. E esses eixos são quatro:

a) O eixo das águas, das termas ao mar;
b) O eixo patrimonial, das Caldas a Óbidos;
c) O eixo comercial, das termas ao caminho-de-ferro;
d) O eixo ecológico, coincidente com a zona intermédia do Perímetro de Protecção Termal, onde se deveriam ter preservado reservas estratégicas de terrenos.

A cidade não nasce nem cresce do nada. Há preexistências geológicas, paisagísticas e construídas a que importa atender, na sua preservação e potenciação para o desenvolvimento. Mas também é certo que as cidades são imperfeitas, tal como todos nós. Cabe-nos, na nossa imperfeição, podermos acrescentar ao papel da cidade o melhor de cada um. O papel desta cidade é um papel já amarelecido pela história de muitas gerações. E é essa patine que dá alma à cidade, porque o seu legado é o maior ensinamento para nela actuarmos. O legado de uma cidade nunca é, portanto, uma folha em branco! Há identidades que se herdam, há novas estratégias que se ambicionam.
A cidade é palco de tensões, de desafios, de planeamento, de acção política e de cidadania. A cidade é o resultado da acção de todos nós e ela sempre nos chama, uma vez mais, porque como escreveu Kaváfis, escritor grego que se dedicou ao estudo do quotidiano das sociedades, “A cidade, por onde fores, irá”.

2010-11-13

Hospital Oeste-Norte

Imagem: slide do power-point apresentado no encontro de hoje.

A convite da direcção do Conselho da Cidade, realizou-se hoje nas Caldas da Rainha a primeira sessão de um ciclo de debates, iniciando-se com o tema "Hospital Oeste-Norte: ampliação ou novo?". O convite foi-me feito para começar este ciclo com uma conferência que intitulei "Uma cidade não nasce nem cresce numa folha em branco", seguindo-se o painel do debate propriamente dito, constituído pelo Dr. José Marques Serralheiro, Dr. Mário Gonçalves e pela vereadora e deputada nacional Maria da Conceição Pereira. A sala esteve cheia, estando a organização de parabéns, e o debate, apesar de rico, foi porém inconclusivo, ou melhor, inconclusivo para a decisão, mas percebe-se uma cada vez maior adesão ao hospital construído de raiz, se recorrermos à memória de há cerca de meia-dúzia de anos quando o seu mentor, José Marques Serralheiro, lançou a ideia, não granjeando de imediato adeptos. No dia 4 de Dezembro, o tema é o futuro das termas. Lá estaremos.

2010-11-11

Água-pé

Bebida tradicional portuguesa, com baixo teor de álcool, resultante da adição de água ao bagaço (ou pé) de uva, a água-pé bebe-se por estes dias, acompanhada de castanhas. Em Lisboa, hoje, as filas junto dos assadores são enormes. E no Cadaval sabe-se que se promovem por estes dias as rotas da água-pé, passeio pelas adegas típicas locais, proporcionando, ao mesmo tempo, o salutar convívio entre os muitos participantes que anualmente se juntam ao evento. Esta noite, dia de São Martinho, aqui em casa, castanhas sim.

2010-11-07

Juntar águas - um almoço de família

Imagem: José Adelino Mangorrinha de Sousa ampliando a árvore genealógica.

Realizou-se hoje, finalmente, um almoço alargado da família Mangorrinha, na Aldeia de São Francisco, ali para os lados de Alcochete. Há muito que o almoço estava prometido entre os mais entusiastas desta ideia, tendo em vista juntar os cinco ramos familiares que derivam do primeiro antepassado que iniciou este apelido, Manuel José Mangorrinha, que viveu no século XIX e nos primeiros anos do século seguinte, sendo proprietário de uma herdade alentejana, aliás de onde todos provimos. Mais de sete dezenas de nós pudemos estar presentes, conhecemo-nos ou revimo-nos e não esquecemos alguns dos que já partiram. Começar um ciclo que já tem data seguinte e para fortalecer os laços desta família que é única. Um abraço particular aos organizadores pelo seu empenho e, claro está, agora temos trabalho de casa e passar para o formato digital as novas notas desta árvore que continua crescendo. Que as águas dos afectos a alimentem para sempre!

2010-11-03

Carlos Amado (1936-2010)

O meu adeus a Carlos Amado, Amigo fraterno com quem almocei há poucos dias e que agora, subitamente, foi para o outro lugar. Mais um dos homens puros que perdemos, como existem muito poucos. A sua casa era a casa do mundo, onde cabiam todos, com um abraço profundo, sem medos nem invejas. Aquela casa foi verdadeiramente a casa das artes e da cultura, onde até os seus animais de estimação assistiam, faziam parte da festa. Carlos Amado tinha uma capacidade de amar o outro como ninguém. Por exemplo, as dificuldades das suas viagens eram transformadas em coisas maravilhosas. Este é um dom raro, raríssimo, tal como me fala neste momento a Helena. Lá, nesse mundo, estou certo que ele e Mestre Lagoa farão das nuvens as mais belas esculturas (imagem in http://daliteratura.blogspot.com/).

2010-11-01

Mujeres de Agua

O disco Mujeres de Agua é um projecto da responsabilidade de Javier Limón e que conta com a fadista portuguesa Mariza entre as artistas convidadas, num trabalho editado pela Universal Music.
Trata-se de uma homenagem de Limón e também de muitas cantoras da bacia do Mediterrâneo, como Aynur, La Susi, Estrella Morente, Carmen Linares, Concha Buika, Montse Cortés, Sandra Carrasco, La Shica, Yasmin Levy, Eleftheria Arvanitaki e Genara Cortés, para além de Mariza, a todas as mulheres iranianas proibidas de cantar.
Por entre alguns temas tradicionais, como “Fadista Louco”, na voz de Mariza, e composições originais de Javier Limón, este trabalho é marcado pelo cruzamento de géneros como o flamenco com o fado, música grega e sefardita, árabe e turca, fazendo deste álbum um trabalho discográfico único. A canção “Agua Misteriosa”, com interpretação de La Shica, foi o primeiro tema escolhido para dar a conhecer o álbum (http://www.youtube.com/watch?v=kCW-GiLyeno).

2010-10-29

Águas Turvas (7): Guimarães Capital da Sem Vergonha

Era de suspeitar. Os "boys da Fundação Cidade de Guimarães" foram denunciados por um astuto membro do Partido Comunista Português (PCP): em tempo de crise financeira grave do país, quase oito milhões de euros serão gastos até ao final do mandato (2015) por esta equipa de sorvedores de dinheiros públicos, a quem foi dada uma missão de interesse público, duvidosa face ao estado do país e de grande parte dos portugueses. E deles há quem faça propaganda da moralidade, aos quatro ventos, embora este tipo de gente só engane os incautos e os subservientes. E quem são eles? À cabeça, Cristina Azevedo, que aufere 14.300 € mensais, como presidente do conselho de administração, depois Carlos Martins e João Bonifácio Serra recebem 12.500 € mensais, para além de altas verbas para despesas de representação, viatura e gasolina, pelo menos. E outros mais, como os membros do conselho geral, entre os quais Adriano Moreira, Eduardo Lourenço e Diogo Freitas do Amaral, com 300 € de senha de presença, e o ex-presidente da República Jorge Sampaio, com quem trabalhou João Bonifácio Serra, que aufere 500 € por reunião.
Quem definiu estes salários foi o presidente da Câmara de Guimarães, aliás conhecidas são as relações estreitas entre Guimarães e o exercício de Sampaio durante a sua presidência. Melhor esteve a ministra da Cultura em criticar estas verbas, definidas anteriormente à sua entrada no Ministério, embora admitamos que tivesse conhecimento das mesmas. Só o alerta do militante do PCP a fez falar.
Senhora Ministra: demita aqueles sorvedores, porque para além do mais não lhes reconhecemos rasgo para os cargos, e reduza esse pessoal ao mínimo e com gente mais capaz, criativa e sem dependências político-partidárias ou obscuras.
Diferentes são outras realizações, também de âmbito celebrativo e nacional, pelas quais se tem dado muito da nossa generosidade cidadã.
Expressão "boys da Fundação Cidade de Guimarães" in http://democraciaemportugal.blogspot.com/2010/10/os-boys-da-fundacao-cidade-de-guimaraes.html.

2010-10-13

As Belas-Artes da Academia

Foto de Tito

A sessão de ontem foi uma oportunidade para sublinhar o quanto de Belas-Artes foi preenchido o território das termas em Portugal, na história destes territórios, e, também, para que os presentes tomassem contacto mais directo com o passado recente da Academia Nacional de Belas-Artes e os projectos futuros da direcção presidida pelo Dr. António Valdemar, a quem envio um abraço fraterno, com desejos que tudo consiga fazer, aliás projectos sintetizados na notícia da Lusa, em cujo sítio bebemos e registamos:

«Belas Artes: História, memória, património, passado e futuro são os "valores" dos prémios atribuídos pela Academia Nacional»
Lisboa, Portugal 12/10/2010 21:33 (LUSA)

Temas: Artes, Cultura e Entretenimento, Educação, Interesse humano

Lisboa, 12 out (Lusa) – História, memória, património, passado e futuro são os “valores” dos prémios hoje atribuídos pela Academia Nacional de Belas Artes, descreveu à agência Lusa o presidente da instituição, António Valdemar.
A cerimónia, que decorreu na sede da Academia Nacional de Belas Artes, em Lisboa, distinguiu em 2010 o arquiteto Manuel Vicente, com o Prémio Aquisição-Arquitectura, o arquiteto Jorge Mangorrinha e a historiadora Helena Gonçalves Pinto, com o Prémio José de Figueiredo, e o arquiteto e pintor Fernando Lanhas, com o Prémio Gustavo Cordeiro Ramos.
À exceção de Fernando Lanhas, que se fez representar pelo “ilustre confrade Fernando Guedes”, todos os galardoados estiveram presentes.Durante o evento, António Valdemar referiu-se às atividades culturais e cívicas que decorreram na atual presidência da Academia e defendeu que “o balanço é muito positivo”. No entanto, disse que “não se acomoda” e, ao anunciar o plano de atividades para o próximo ano, faz questão de frisar “que quer mais”.
Destacou, nomeadamente, a digitalização de cem mil documentos do acervo documental da Academia relativos aos anos de 1836 a 1931, um trabalho que considera “notável”, patrocinado pela Secretaria de Estado da Cultura e executado na Torre do Tombo por uma equipa de técnicos coordenados por Silvestre Lacerda, diretor geral dos Arquivos.
Relativamente ao plano de atividades já agendadas para 2010/2011, António Valdemar anunciou a evocação dos 175 anos de Passos Manuel, fundador da Academia, e do centenário da morte de Ressano Garcia.
No âmbito das comemorações do centenário da República, prosseguem nas próximas semanas palestras a cargo dos académicos. As sessões acontecem na sede da Academia Nacional de Belas Artes (Largo da Academia, ao Chiado, em Lisboa), têm início às 15 horas e são abertas ao público, indicou António Valdemar.
CD.

2010-10-12

Prémio José de Figueiredo 2010

Foto de Esmeralda Santos Pinto

Hoje, sessão solene da entrega do Prémio José de Figueiredo 2010.
Sala da Academia Nacional de Belas-Artes cheia com Amigos.
Bem hajam!

2010-10-10

Águas de Belém

Imagem: Fonte em Belém, Lisboa, Jorge Mangorrinha

Passavam dez minutos do meio-dia, quando neste dia palíndromo de 10 do 10 do 10 retive o instante em que águas presentes envolvem as pedras artísticas de Belém, em Lisboa.
Águas suspensas nas nuvens e águas emergentes, vaporosas e entornadas na fonte.
Esta é a zona da capital portuguesa que mais turistas recebe, e hoje, domingo, por entre nuvens ameaçadoras mas artisticamente belas, o Sol brilhava quase escondido sobre uma zona pejada de gente. Ao fundo a torre do Mosteiro dos Jerónimos, à entrada do qual uma fila imensa esperava visitar o ícone mais promovido lá fora.

2010-10-05

As Cores de Portugal

Imagem: projecto de bandeira nacional, tinta sobre tela, dim.510x610 mm, des. Delfim Faria da Costa, Sintra, 24 de Outubro de 1910, col. Arquivo Municipal de Lisboa, cota: PT/AMLSB/AL/CMLSB/UROB-PU/11/884, in Eu fui uma testemunha. O 5 de Outubro em Lisboa, edição da Câmara Municipal de Lisboa, p.54 (catálogo da exposição inaugurada hoje pela tarde nos Paços do Concelho).

A escolha das cores e da composição da actual bandeira portuguesa não foi pacífica, tendo inclusivamente dado origem a acesas polémicas e à apresentação de várias propostas, por parte dos partidários do azul e branco e os do verde e rubro, mesmo entre republicanos. Um dos exemplos é esta versão datada de 24 de Outubro de 1910, depositada no Arquivo Municipal de Lisboa e, a partir deste 5 de Outubro, revelada publicamente.
Não tendo, portanto, sido uma questão pacífica, as cores da bandeira republicana e nacional fixaram-se ainda em 1910, após relatório da comissão nomeada para o efeito [aprovada pelo Governo em 29 de Novembro, ratificada na Assembleia Nacional Constituinte em 19 de Julho de 1911 e publicada no Diário do Governo, sucessivamente nos números 141 e 150, em Decreto de 30 de Junho de 1911].
O azul e o branco haviam sido já decretados como as cores escolhidas para o laço nacional (cockard) nas Cortes Gerais da Nação, em 1821, baseadas no escudo de D. Afonso Henriques. Em 1910, na sessão da Câmara Municipal de Lisboa de 8 de Dezembro, uma curiosa intervenção do vereador Cunha e Costa ocupou-se dessa matéria, já depois de a bandeira definitiva estar entregue às “forças de terra e mar”, em acto solene dias antes.
José Soares da Cunha e Costa (1868-1928) era licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Fora viver para o Brasil, tendo-se tornado Cônsul de Portugal em Santos, participando na acção da Comunidade Portuguesa que se preenchera de indivíduos instruídos e provenientes da burguesia, para consolidar o republicanismo e preparar a sua implementação em Portugal, também com os proveitos entretanto ganhos por eles no Brasil. Regressado a Portugal, Cunha e Costa publicou, no O Século, um grande número de artigos sobre tabaco, nos anos de 1904 e 1905. Apesar de eleito na Câmara Municipal republicana, em Lisboa, abandonou o Partido Republicano em 1911, aderindo à causa monárquica e colaborando em periódicos católicos. Não é de admirar, portanto, a intervenção acalorada deste edil acerca das cores da nova bandeira nacional.
Nessa sessão, o vereador começa por revelar a sua admiração pela introdução do verde, já que considera que, inicialmente, a comissão optara pelo branco e vermelho. Mas repudia o modo como a comissão eliminara a cor azul. Sobre esta, a comissão argumentou pela “acção nociva, dissolvente sobre o caracter portuguez, o depressivo marasmo, o servilismo resignado, a inercia imbecil da grande maioria da Sociedade Portugueza nos últimos 80 annos”. O azul era uma cor utilizada nas bandeiras de França, República Argentina, Chile, Confederação Australiana, Holanda, Suécia, Noruega, quaisquer destes países considerados pelo vereador como “modelos de virtudes cívicas”. Segundo Cunha e Costa:
“A Commissão adopta enthusiasticamente o vermelho, como a cor mais própria para exprimir a globulinea riqueza d’uma energia que se affirma ou de uma nação que desperta. Assim será. Infelizmente, ao lado da bandeira ingleza, onde aliaz o azul se acha representado, e das bandeiras da Suissa e da Dinamarca estas largamente cortadas por uma cruz, só tres nações hasteiam o pavilhão vermelho, o Egypto, a Turquia e o sultanato de Zanzibar. O pavilhão vermelho, inteiramente extreme dos symbolos, só ha o de Marrocos! Accentua a cicunstancia de ser a côr vermelha a do pavilhão real no antigo regimen e a côr verde o distinctivo da Casa de Bragança dethronada. Sem por forma alguma amesquinar o valor dos revolucionarios das jornadas de Outubro, nem esquecer a coragem civica dos que n’uma vida inteira de abnegação prepararam o advento da República, não deixará de dizer e sustentar que os actos de bravura e civismo n’esses dias praticados, dignos de toda a homenagem, não podem ter comparação com a epoca liberal que da legendaria Terceira vai até á convenção de Evora Monte atravez o [sic] cêrco do Porto. Foi pelas mãos do liberaes de 1820 e 1834 que os principios da democracia entraram na consciencia juridica do povo portuguez, há 80 annos”.
Cunha e Costa propôs que se desse à bandeira verde e vermelha honras excepcionais pelo papel que a República deveria ter na aproximação dos portugueses, mas que fosse nacional a bandeira azul e branca, por ter sido ela que acompanhara “os heroicos e generosos revolucionarios de 1820 e ainda ella a que desfraldaram os revolucionarios de 1829”. Seria esta, verdadeiramente, “a bandeira do povo e da liberdade”.
A bandeira verde e vermelha acabaria por vingar, definitivamente: rectangular (2:3), tal como as suas antecessoras, e bipartida nas cores fundamentais de verde e vermelho, ocupando o verde dois quintos da largura, do lado da tralha, e o vermelho os restantes três. Centrada na divisão, o brasão da República, constituído pelo escudo das armas nacionais, orlado de branco e assentado sobre a esfera armilar manuelina, em amarelo e avivada de negro, em referência à epopeia marítima portuguesa e à bravura, tenacidade, diplomacia e audácia dos portugueses. O diâmetro do brasão é igual a metade da altura da bandeira, ocupando metade da tralha e ficando equidistante das orlas, superior e inferior. Uma larga faixa carmesim, com sete castelos, simboliza a integridade e a independência nacional.
Segundo o parecer daquela comissão, o branco representaria a cor fraternal, em que todas as outras cores se fundem, cor de singeleza, de harmonia e de paz. A comissão defendeu que o vermelho figuraria como uma das cores fundamentais, por ser a cor combativa, quente, viril por excelência, cor da conquista, cor cantante, ardente, alegre, que lembra o sangue e incita à vitória. Em relação ao verde, para além de ser comummente associada à esperança, foi mais difícil a justificação da comissão, por ser uma cor sem tradição histórica, apenas baseada no argumento da consagração da revolta de 31 de Janeiro de 1891, a partir da qual o verde teria surgido no momento decisivo em que, “sob inflamada reverberação da bandeira revolucionária, o povo português fez chispar o relâmpago redentor da alvorada”.
Hoje em dia, não é raro encontrar versões simplificadas ou erradas da bandeira nacional, muitas vezes com incorrecções heráldicas, na representação do brasão, e cores trocadas ou deturpadas.

Lisboa Republicana

Na tarde de 5 de Outubro de 2010
O povo saíu à rua na Baixa de Lisboa!

República Centenária

À entrada desta noite, de 4 para 5 de Outubro, antes de um jantar do Grupo de Trabalho da Comissão Municipal para as Comemorações do Centenário da República e do espectáculo (pouco) dançante na Alameda, a presença gratificante na sessão de encerramento dos encontros "O Alentejo e a I República", na Casa do Alentejo, como representante da Câmara Municipal de Lisboa, onde pude encontrar o cantautor Francisco Naia (http://www.myspace.com/francisconaia), meu primo paterno por parte da família Tonicher (Tonicha) e actual presidente do Centro de Estudos Documentais do Alentejo (CEDA).
Deixo aqui o meu pequeno discurso:

«Em nome da Câmara Municipal de Lisboa e da Comissão para as Comemorações Municipais do Centenário da República, da qual faço parte, cumprimento os ilustres companheiros de mesa e todos os demais presentes.
Este lugar, tal como o conhecemos, nasceu na República e tem tido uma importância relevante para a cidade de Lisboa.
Foi neste edifício que, a partir de 1918, António Rodrigues da Silva Júnior – arquitecto não diplomado, republicano e maçon – traçou este ambiente neo-mourisco destinado a um dos primeiros – senão mesmo o primeiro – casino de Lisboa, inaugurado no ano seguinte.
Estávamos à entrada dos loucos anos 20, e de tanta loucura que na capital reinava, talvez o povo ou melhor os seus representantes se esqueceram de cuidar dessa Primeira República – de tão efémera que foi.
Mas também efémera foi esta casa de jogo e divertimento, que terminou em 1928, já denominada “Monumental Club”.
Seguiu-se-lhe uma vida nova: “Grémio Alentejano” em 1932 e, posteriormente “Casa do Alentejo”, sendo desde sempre uma das mais dinâmicas casas regionais de Lisboa.
Tem sido um postal turístico de Lisboa. Todos os dias são muitos turistas que aqui vêm, admirar as suas formas, apreciar a sua gastronomia. E, como tal, não podemos esquecer que no próximo ano perfazem 100 anos sobre a criação, pela primeira vez em Portugal, de uma Repartição de Turismo na orgânica do Estado, já republicano.
E, há que lembrá-lo, que em 1911 quem passou a tutelar pela primeira vez o Turismo foi o Ministro do Fomento, Brito Camacho, hoje justamente homenageado.
Em nome da Câmara Municipal de Lisboa e da Comissão Municipal para as Comemorações do Centenário da República, felicito a organização desta sessão e convido todos os presentes a participarem nas realizações que, à volta da República, decorrem em Lisboa e noutras que se inaugurarão nesta cidade, que se quer de todos os portugueses e de todos os alentejanos em particular e, portanto, genuinamente republicana.»

2010-10-04

O Último Presidente Monárquico

Qual a relação entre as águas termais e o presidente do último governo monárquico?
António Teixeira de Sousa (1857-1917), natural de Celeirós, foi, para além de exercer a sua actividade na Medicina, escritor, deputado, par do reino, ministro de Estado e líder do Partido Regenerador. Presidiu ao último governo da Monarquia Constitucional, sendo deposto pela Revolução de há 100 anos.
Em 1894, fora nomeado director técnico do estabelecimento termal das Pedras Salgadas, cargo que ocupou até 1897, mantendo aí o exercício da clínica termal, tal como no Vidago. Em 1895 foi nomeado cirurgião-ajudante do Exército. Foi accionista da Empresa das Águas do Vidago e eleito procurador à Junta Geral do Distrito de Vila Real, pelo concelho de Alijó, abandonando o Exército no mesmo ano, servindo até à extinção das Juntas Gerais, várias vezes como membro da comissão executiva.
Em 1889, foi eleito deputado por Alijó, iniciando uma carreira política em Lisboa, que o levaria à liderança do partido e à presidência do Ministério. Como membro destacado do Partido Regenerador, assumiu nos últimos anos da Monarquia um crescente protagonismo: inspector da Companhia de Tabacos de Portugal, de 1891 a 1900; administrador-geral das Alfândegas, de Maio a Outubro de 1904; governador do Banco Nacional Ultramarino, de Fevereiro, de 1909 a 1910; e, finalmente, presidente do Ministério, dos governos daquele partido. Nos governos regeneradores de Hintze Ribeiro, exerceu os cargos de ministro da Marinha e Ultramar e ministro do Ultramar, de 25 de Junho de 1900 a 28 de Fevereiro de 1903, e ministro dos Negócios da Fazenda, desde aquela data até 20 de Outubro de 1904. Retomou a pasta da Fazenda, de 21 de Março a 19 de Maio de 1906, em novo governo de Hintze Ribeiro, onde representava a tendência próxima de João Franco. Eleito líder do Partido Regenerador, a 23 de Dezembro de 1909, quase de imediato forma governo a convite do rei. Governou de 26 de Junho a 4 de Outubro de 1910, sendo deposto pela Revolução.
Nas vésperas desta, e depois de uma noite sem se deitar, antevendo a gravidade dos acontecimentos, cerca das 9 horas o rei seria aconselhado por Teixeira de Sousa a refugiar-se em Mafra ou Sintra, dado que era iminente o bombardeamento do Paço das Necessidades por parte de revoltosos. Mas o rei manteve-se. Cerca do meio-dia, os cruzadores “Adamastor” e “São Rafael” começaram a bombardear o edifício, obrigando o rei, renitente, a refugiar-se na Palácio de Mafra, nessa tarde, seguido pelas rainhas D. Amélia e D. Maria Pia, que estavam nos Palácios da Pena e da Vila, em Sintra. Na manhã seguinte, o rei procurava um modo de chegar ao Porto, acção muito difícil de concretizar por terra, dada a quase inexistência de uma escolta e os inúmeros núcleos de revolucionários espalhados pelo país. Entretanto, o iate real “Amélia” fundeara na Ericeira, vindo da cidadela de Cascais, com o tio e herdeiro ao trono, D. Afonso. A família real e alguns acompanhantes dirigiram-se à Ericeira, de onde, por meio de dois barcos de pesca e perante os olhares curiosos dos populares, embarcaram no iate real rumo a Gibraltar e não ao Porto como era desejo do rei. Este, uma vez a bordo, escreveu a Teixeira de Sousa as seguintes palavras: «– Forçado pelas circunstâncias vejo-me obrigado a embarcar no yatch real “Amélia”. Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer! Viva Portugal! Dê a esta carta a publicidade que puder. Sempre mº afectuosamente – Manuel R. – yatch real “Amélia” – 5 de Outubro de 1910.»
Teixeira de Sousa continuaria a ser amigo pessoal de destacados republicanos, como Afonso Costa, Bernardino Machado, Brito Camacho e França Borges, mas afastou-se da política após a implementação da República.
Faleceu, no Porto, a 5 de Junho de 1917.

2010-10-01

Dia Nacional da Água - "Águas" da República

Hoje, Dia Nacional da Água, o dia começou com a viagem inaugural do autocarro da República, juntando elementos da Comissão Nacional e da Comissão Municipal, membros do executivo camarário e dirigentes e jornalistas. Esta primeira viagem, por pontos cruciais do movimento revolucionário de há 100 anos, foi guiada pelo professor António Reis, coordenador científico das Comemorações Municipal do Centenário da República. A acompanhar o visitante, existe um roteiro impresso com os locais do percurso.
A não perder, durante os próximos tempos! A partida faz-se na Rua do Comércio.

À entrada da noite, estivemos na inauguração da exposição "Silva Monteiro. Desenho Humorístico n'Os Ridículos 1908-1926", no Museu Bordalo Pinheiro. Mete água um dos notáveis desenhos deste desenhador-caricaturista que foi muito popular na I República. Traçando a tinta-da-china e aguada sobre papel vegetal, retrata os "Três Dissolvidos! (É o Dissolves!)", publicado na capa de Os Ridículos, de 2 de Abril de 1919. Na época, os partidos Evolucionista, Unionista e Democrático, representados pelos seus líderes, quando dissolvidos, nunca o chegaram a ser, nem mesmo "em água a ferver".
Excelente percurso expositivo, acompanhado por imperdível catálogo. Outro mais a juntar à colecção de publicações que o nosso Grupo de Trabalho para as Comemorações Municipais do Centenário da República tem produzido, num ensinamento para outras realizações, de como o entusiasmo de um grupo coeso e dedicadamente responsável à causa profissional, sem que isso represente muitos recursos financeiros, pode deixar um lastro de conhecimento para o futuro acerca de uma época histórica marcada por feitos positivos e outros nem tanto.
Nos próximos dias, há mais República!

2010-09-27

Dia Mundial do Turismo

Imagem: "Indian Summer", Zoltán Balogh

Sob o lema "Turismo e Biodiversidade", a Organização Mundial do Turismo promoveu um concurso de fotografia, cujos resultados estão acessíveis em: http://www.unwto.org/worldtourismday/photocompetition/winners.php?lang=E.
Esta é a imagem vencedora e, também, a nossa selecção, para registarmos, hoje, o Dia Mundial do Turismo, em torno de um tema verdadeiramente pertinente: a necessidade de bem articular o Turismo com a Biodiversidade do Planeta.

2010-09-23

O Dia do Mar

Imagem: a nova ZEE portuguesa.

Hoje é Dia do Mar. Portugal, primeiro país do mundo com jurisdição para lá das 200 milhas náuticas, pode vir a ser uma grande potência mundial marítima. Importa registar a sequência evolutiva desta questão.
A 10 de Dezembro de 1982, em Montego Bay, Jamaica, foi assinada a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), com o objectivo de criar um regime jurídico relativo ao mar. Esta Convenção introduziu ainda alterações aos critérios até então em vigor na delimitação e jurisdição sobre a plataforma continental de cada um dos Estados costeiros, consagrando a possibilidade da sua extensão para além das 200 milhas.
Ao abrigo desta Convenção, criou-se uma estrutura de missão denominada "Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental", com o objectivo de investigar e apresentar uma proposta de delimitação da plataforma continental de Portugal, para além dos limites actuais das 200 milhas náuticas.
Um dos objectivos daquela estrutura é o de "Conhecer as características geológicas e hidrográficas do fundo submarino ao largo de modo a poder vir a fundamentar a pretensão de Portugal em alargar os limites da sua plataforma continental para além das 200 milhas náuticas. Os projectos da Extensão da Plataforma Continental apresentam dados hidrográficos, geológicos e geofísicos, que revelam a quantidade extraordinária de recursos que se encontram imersos e que permitem reclamar a aquisição de novos territórios imersos.
No dia 11 de Maio de 2009, Portugal depositou na sede das Nações Unidas, a sua proposta de extensão da plataforma continental de mais de 2 milhões de metros quadrados, além das 200 milhas da Zona Económica Exclusiva (ZEE).
Na plataforma continental alargada os países apenas terão jurisdição sobre os recursos do solo e subsolo, como petróleo, gás, metais ou recursos biológicos e genéticos, ficando de fora a exploração de recursos na coluna de água.
A deliberação sobre a proposta portuguesa deverá ser conhecida no final de 2011.
Será que só assim podemos ser um país grande?
Mas o Dia do Mar também é o segundo livro de Sophia de Mello Breyner Andersen, publicado em 1947. O livro baseia-se no tempo recuperado da infância, na qual a autora recupera as vozes das coisas. Os conceitos do mar, da praia, da casa e do jardim servem a autora para a busca da perfeição, pureza e harmonia. O mar é aqui a fonte da purificação e lugar onde tudo adquire sentido.
Inspiremo-nos em Sophia, para fazer grande este país!

2010-09-19

Porto

Imagem: Ribeira do Porto, Jorge Mangorrinha

O Porto continua uma cidade deslumbrante, onde gosto de ir, sempre com destinos preconcebidos, designadamente na leitura e na gastronomia, e outros para (re)descobrir. Desta vez, nas deambulações por muitas partes da cidade, o pôr-do-sol foi na Ribeira, enquadrando dois barcos rabelos e duas pontes que ligam Porto e Gaia e uma terceira mais ao fundo. À noite, com amigos, percorremos as ruas cheias de gentio jovem, para o que muito tem contribuído a abertura de espaços de convívio em antigos armazéns e os efeitos de uma lenta mas importante regeneração urbana desta zona da cidade, sensivelmente entre a Cedofeita e a Ribeira. Para além disso, a rede de Metro é notável no seu desenho territorial, na arquitectura das estações e na imagem limpa das carruagens. E também a arquitectura contemporânea da cidade, residencial e outra, continua a marcar destaque no universo da nova arquitectura portuguesa.
Será que, depois de duas ou três décadas de menor protagonismo, o Porto (e também Gaia) vai recuperar o centro das atenções de todos nós e tornar-se de novo no centro de uma região economicamente regenerada?

Mondariz

Imagem: unidade de engarrafamento das águas de Mondariz e de Fuente del Val, Jorge Mangorrinha

Mondariz mantém o seu microcosmo urbano associado ao termalismo, para onde ainda vão muitos portugueses em busca da terapia e do espairecimento. Esta estância termal galega recebeu nas últimas décadas um forte investimento: na remodelação do balneário terapêutico para balneário/hotel, na edificação do Palácio da Água para banhos com água corrente no lugar onde existiu a antiga e notável oficina de engarrafamento e na reconstrução do inacabado Hotel-Sanatório para hotel e do antigo Grande Hotel para alojamentos privados depois do incêndio que este sofreu. Mantém-se a Fonte de Gándara, praticamente como de origem.
Em Mondariz, reencontrámos amigos e fizemos outros, ou não seja Mondariz, há muito tempo, "o único lugar onde se faz a verdadeira união ibérica".
A cerca de dois quilómetros deste complexo, existe a unidade de engarrafamento das águas de Mondariz e de Fuente del Val, por um caminho verdejante que é bom fazer pela manhã fresca, junto às margens do rio Tea, incluídas na Rede Natura. As garrafas de Mondariz circulam por toda a Espanha e, hoje como sempre, com um design apelativo, porque, além do mais, os olhos também bebem.

2010-09-06

Igreja de Nossa Senhora do Pópulo: a Igreja das Termas

Imagem: foto tirada do interior da torre sineira da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, Caldas da Rainha, Jorge Mangorrinha

Há 100 anos, a 23 de Junho de 1910, foi publicado no Diário do Governo o decreto de 16 desse mês que classificou a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, das Caldas da Rainha, como Monumento Nacional. É uma efeméride que, um século depois, merecia ter sido assinalada pelas autoridades e associações locais.
A Igreja do Pópulo, como comummente é designada, é o mais evidente vestígio do empreendimento aqui realizado a partir do final do século XV. Em 1495, obteve-se a autorização papal para sagrar uma capela junto ao hospital termal, para dois anos depois os doentes serem autorizados a frequentá-la, acedendo-lhe através de um corredor interno do hospital. Data de 1500 a conclusão das obras principais e de 1508 o término da torre.
Este edifício inscreve-se no ciclo pré-manuelino, salientando-se notavelmente a nave única coberta por abóbada de artesões, a capela-mor com abóbada de nervuras dela separada por arco triunfal policêntrico, os frontais de azulejos quinhentistas, os painéis azulejares seiscentistas, a pia baptismal, de planta octogonal, em forma de cálice e profusamente rendilhada, e o recorte das aberturas sineiras da torre.
A este propósito, direi que classificar património é relevar em cada território os elementos específicos, resultantes da história da sua ocupação humana através dos tempos, capazes de, devidamente investigados e interpretados, constituir um núcleo aglutinador de uma ideia de identidade local, sendo que em muitos casos essa dimensão histórico-cultural atinge importância nacional ou mesmo universal.
Existe indubitavelmente nas Caldas da Rainha um território patrimonial marcadamente identitário, que foi motor de desenvolvimento na História e é referência permanente de uma visão de futuro. Esse património gravita à volta do Conjunto Termal, constituído essencialmente - para além da Igreja - pelo Hospital, pela Mata e pelo Parque.
Mas - dizemos nós - compete aos agentes não obstaculizarem este tipo de processos. Caso contrário, não estão a participar na protecção do património cultural com o ordenamento do território e o desenvolvimento sustentável das comunidades, tendo em conta a recente evolução do direito do ordenamento do território, da urbanização e edificação e da reabilitação urbana.
É que nestes processos o Estado não é só o Ministério da Cultura. Também outros organismos ministeriais, como a Saúde, ou as autarquias têm o dever de, pelo menos, apoiar o justo reconhecimento do valor patrimonial de bens culturais, que é um factor de competitividade cada vez mais integrado na economia das nações e das cidades.

2010-09-05

Caldas da Felgueira - 200 Anos de Curas


Imagem: pormenor da platibanda do balneário termal oitocentista das Caldas da Felgueira, Jorge Mangorrinha

Perfazem este ano, precisamente, 200 anos sobre o início da exploração continuada das águas da Felgueira, neste caso pelo padre José Inácio de Oliveira. A "nascente quente e sulfúrica no limite do lugar de Vale de Madeiros” já era referenciada desde os quesitos de 1758. Era então utilizada por pastores e caçadores para a cura dos seus animais. A primeira utilização terapêutica registada é a da cura de uma doença de pele do padre José Lourenço, em finais do século XVIII. Este padre mandou construir uma casa junto do poço, já no início do século XIX, mas seria o padre Oliveira que tomaria, em 1810, a exploração continuada destas águas, mandando para tal construir melhores instalações e uma capela, esta já em 1818 e que se mantém.
Nesse mesmo ano de 1810, o médico Francisco Tavares refere-se a estas águas por intermédio de terceiros e acrescenta que “é de esperar que tenham todas as virtudes das águas sulfúreas e das salinas”.
O grande impulso seria dado, porém, a partir de 1882, ano em que foi constituída a Companhia das Águas Medicinais da Felgueira, seguida da criação da Companhia do Grande Hotel Club das Caldas da Felgueira, o que levou à edificação respectiva de um balneário pioneiro e de uma grande unidade hoteleira, inspirados nas melhores estâncias centro-europeias e dotando o centro do país com condições únicas de vilegiatura e lazer. O balneário foi projectado e construído entre 1883 e 1887, sob o traço de Rodrigo Berquó, com base na ideia de separar completamente as diversas classes de banhos, cada qual com entrada própria.
O empenho e a aventura dos primeiros accionistas e concessionários fizeram com que as Caldas da Felgueira passassem a ter um papel importante no termalismo nacional, durante o século XX, ressurgindo actualmente como um lugar de promoção da saúde e do bem-estar, para o que muito contribui, tanto as estruturas de origem, e sua remodelação, bem como os serviços prestados.
A passagem dos 200 anos sobre a exploração continuada destas águas terapêuticas é um marco importante para se aprofundar o conhecimento da história desta estância termal e preservar a memória dos homens e dos acontecimentos relevantes, bem como para registar os desafios que se pressentem para o futuro.
(Excerto das propostas para uma monografia das Caldas da Felgueira [Helena Gonçalves Pinto e Jorge Mangorrinha], a pedido do concessionário, cuja elaboração aguarda decisão administrativa)

2010-08-29

Águas de Mel

Imagem: quarto debaixo de água, em hotel nas Maldivas

Não sei qual o lugar perfeito para a lua-de-mel, até porque acho que o que importa, essencialmente, é a companhia. Mas o ambiente ajuda, é claro! Este talvez seja, pelo menos, um dos mais originais e arrojados ambientes para esse efeito, ou seja, um quarto rodeado de água e peixes. A inovação partiu de um hotel, nas Maldivas, em pleno Oceano Índico, pertencente à cadeia internacional Hilton, que, a propósito do seu 5.º aniversário, construíu a suíte nupcial numa redoma de vidro acrílico transparente de alta resistência. A suite tomou o nome de Ithaa (pérola), onde antes, aliás, já era algo de diferente, pois o espaço tem sido um restaurante do próprio hotel: (http://www.hiltonworldresorts.com/Resorts/Maldives/dining_entertainment/ithaa.html#Maldives++++Maldives).
Para realizar este edifício subaquático, a empresa MJ Murphy Ltd, da Nova Zelândia, recorreu à tecnologia usada na construção de grandes aquários marinhos.
As Maldivas são compostas por mais de mil ilhas, embora apenas cerca de 200 sejam habitadas. O acesso a este compartimento a 5 metros debaixo da água, com 5 metros de largura por 9 de comprimento, é feito por uma escada em caracol, para se confrontar com uma paisagem exótica, onde se movem peixes multicolores de várias espécies, e até tubarões.
Mas, será que, nessa noite, alguém liga a estes tubarões, tão inofensivos?

2010-08-28

O Paradoxo da Água

Imagem: logótipo de Saint-Gervais-les-Bains

Surpreendentemente, outras águas podem pôr em risco a sobrevivência de uma estância de águas francesa. Efectivamente, um lago até agora escondido nas montanhas ameaça a vila de Saint-Gervais-les-Bains, que fica junto do Monte Branco, o ponto culminante dos Alpes. A vila tem 3.000 habitantes e é frequentada por aquistas e alpinistas. O volume de água deste lago é equivalente a 26 piscinas olímpicas, ou seja, cerca de 65.000 metros cúbicos de água, o suficiente para produzir uma tromba de água e destruír tudo à volta, durante 15 a 30 minutos. Por isso, estão a ser colocados tubos que deverão descer a 80 metros de profundidade para drenar o primeiro foco de água. As temperaturas mais elevadas podem ter contribuído para a criação do lago, mas uma recente onda de frio foi responsável pelo congelamento nas rotas naturais de drenagem da montanha.
Não deixa de ser paradoxal que a água, como elemento fundamental para a economia desta terra, quer seja pela água mineral natural para utilização terapêutica, quer para recreação na neve, possa fazer perigar, de súbito, a integridade física, humana e de todas as espécies vivas aí existentes.

2010-08-27

Talassoterapia: a Cura que vem do Mar (2)

Imagem: Projecto para Centro de Talassoterapia em Crikvenica, Croácia, ateliê Randic-Turato (http://www.randic-turato.hr/)

"A Cura que vem do Mar" foi o título da minha intervenção num encontro científico realizado, em 2008, em Peniche. Hoje, uma nova conversa acerca desta temática levou-me a recordar o que dissera nesse II Congresso Internacional de Turismo de Leiria e Oeste e, há meses, registara neste blog, ou seja, que "a talassoterapia é a utilização combinada da água do mar e das substâncias dela extraídas e das técnicas associadas. Internacionalmente, os centros e institutos de talassoterapia têm evoluído no sentido de se dotarem de uma oferta qualificada e diversificada, potenciando a localização junto ao mar. Portugal é um território privilegiado, reunindo as condições que um centro de talassoterapia exige no processo de valorização das fontes marinhas como forma de terapia e de utilização turística" (http://aoencontrodasaguas.blogspot.com/search/label/talassoterapia). E os municípios de vocação marítima têm condições para apostar num cluster associado ao mar, onde se insira o desenvolvimento da talassoterapia, numa perspectiva de saúde e bem-estar, envolvendo nele, também, a iniciativa privada. Os estudos a montante devem reflectir sobre as melhores opções estratégicas e acções futuras, bem como enquadrar o tema no desenvolvimento do Turismo de Saúde e Bem-Estar, produto estratégico para Portugal, bem como no cluster da Economia do Mar, numa perspectiva de sustentabilidade do território e dos destinos turísticos.
Noutros países, já há muito que se aposta neste sector e em projectos arrojados de arquitectura. Em 2005, para Crikvenica, o ateliê croata de arquitectura Randic-Turato (http://www.randic-turato.hr/), localizado em Rijeka, idealizou um centro de piscinas talassoterápicas, com base num edifício de dupla espiral, com grandes extensões de relva a formarem um parque na cobertura (http://www.thalasso-ck.hr/). Aí, já existe, desde 1895, um hospital especializado. Trata-se de um local com clima temperado, ampla vegetação mediterrânica, altos níveis de iodo e largas praias, propício para terapias com recurso ao mar e ao clima, ou seja, para doenças do foro reumatismal e respiratório. Um exemplo de como as águas da costa marítima são aproveitadas para a saúde.
E tanto mar que há em Portugal!

2010-08-26

Parque Mayer

Imagem: Parque Mayer, in jornal Público, de 1 de Julho de 2010

Almocei uma vez mais com o meu amigo Jorge Trigo, o que antecedeu uma reunião, breve, na Videoteca Municipal de Lisboa, para o desenvolvimento dos documentários sobre o 5 de Outubro, no âmbito das comemorações municipais do Centenário da República, cuja exposição abrirá no início de Outubro, nos Paços do Concelho.
Claro está que, para além da República, salta sempre em conversa o Parque Mayer, uma das paixões do Jorge, autor da sequência de livros sobre a história deste importante ícone da cidade de Lisboa e dos quais se espera para breve um 4.º volume.
A sobrevivência do Parque Mayer deve-se a todos aqueles que lhe têm feito uma história de quase um século: actores, autores, músicos, coreógrafos, cenógrafos, guarda-roupas, empresários e público. Mas, destes, importa reconhecer a notabilíssima acção do empresário e produtor Hélder Freire Costa, no Teatro Maria Vitória (http://www.teatromariavitoria.com/), dando continuidade a um tipo de espectáculo que tem sofrido de muitas incompreensões, mas sobrevivido graças ao empenho de muitos, a começar pelo seu produtor, que conheço e de quem tenho uma imagem de grande afabilidade.
Tal como li há dias no Jornal de Notícias, "em Portugal, o teatro de revista tem três sinónimos: Parque Mayer, Teatro Maria Vitória e Helder Freire Costa".
Depois de “Agarra que é honesto”, no Parque Mayer prepara-se mais um espectáculo de crítica social e política, intitulado "Vai de e-mail a pior", num espaço que já conheceu quatro teatros e apenas tem um a funcionar. O Parque Mayer existe desde os "loucos anos 20", sobrevivendo à censura do Estado Novo, à rádio, ao cinema, à televisão, ao futebol, ao pós-25 de Abril, às telenovelas e até a quem, na mesma área, também gostasse de o ver acabado.
Acho que o Jorge ainda vai escrever muitas páginas sobre as estórias que o futuro trará ao Parque Mayer.
Aproximando-se o período de discussão pública sobre o Plano de Pormenor do Parque Mayer, espero que se não meta (mais) água neste caso, que o teatro continue a ser o protagonista do espaço e que se cumpra, também, a necessidade de analisar este sítio, geológica, geotécnica e hidrogeologicamente, com a realização de estudos específicos, para se obter informação mais pormenorizada, designadamente sobre a existência dos lençóis freáticos do seu subsolo, antes da proposta final e do avanço das obras.
A cidade, as suas tradições, o seu turismo e o teatro merecem!

A Ver o Mar: a Casa das Mudas

A edição de Agosto da revista norte-americana Vanit Fair publicou o resultado das questões que colocou a 52 especialistas de todo o mundo acerca das maravilhas da arquitectura moderna, para além de lhes ter pedido para escolherem o mais significativo trabalho de arquitectura criado até agora no século XXI. Este prémio recaíu para o Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, na ilha da Madeira (http://www.centrodasartes.com/Default.aspx).
Trata-se de um edifício já antes premiado internacionalmente pela sua arquitectura e em perfeita integração na paisagem, que conta agora com mais este reconhecimento. Junta-se a distinções como o “Prémio Secil 2007”, o “Prémio Europeu da Arquitectura - Prémio Mies Van der Rohe 2005”, o “Prémio Ibérico de Arquitectura FAD 2005”, o “Prémio Enor Portugal 2005 - 1ª Edição” e o “Prémio de Arquitectura “Barbara Cappochin” 2005”.
As águas foram certamente inspiradoras da arquitectura de Paulo David. Esta ergue-se numa falésia em queda, ou o fim da terra sobre aquela imensidão de mar, a senti-lo e a vê-lo tão perto!

2010-08-25

Salve-se Yasuní!


A nossa sobrevivência como Humanidade depende da salvaguarda de áreas ambientais localizadas muitas vezes longe das nossas residências. Mas acontece que algumas estão em perigo, tal como a região de Yasuní, na Amazónia equatoriana, o local de maior biodiversidade do planeta, com 982.000 hectares. A sua sustentabilidade depende de um plano que visa manter inexplorado o petróleo existente neste gigantesco jardim. É o meu alerta a todos que possam, de alguma forma, referir-se nos seus espaços próprios ou acedam a http://www.sosyasuni.org/en/index.php, a favor desta reserva ambiental e contra a exploração petrolífera, provada que está a incompatibilidade.
O parque Yasuní estende-se pela margem leste da selva amazónica, entre as províncias de Orellana e Pastaza, e é o habitat de 150 espécies de anfíbios, 121 de répteis, 596 de aves, 200 de mamíferos, 500 de peixes e 4.000 de plantas, muitas endémicas.
Com elas, convivem os Tagaeri e Taromenane, dois últimos povos indígenas em isolamento voluntário no Equador, um dos 12 países com maior biodiversidade do mundo, que propõe manter 20% de suas reservas petroleiras debaixo da terra como uma contribuição contra o aquecimento global.
Quem já lá foi, no que diz respeito a cientistas, conta que existem sons mágicos, numa bolha de bosque quase intacto, apesar de já ter sido afectada parcialmente pela exploração de petróleo. A diversidade desta região é, segundo dados científicos, a maior do planeta. Um único hectare abriga 655 espécies vegetais, mais que o total de árvores nativas de Estados Unidos e Canadá. Uma única árvore de 60 centímetros de diâmetro pode armazenar uma tonelada de carbono, o que equivale às emissões de 500 carros durante um ano. Sabe-se como cerca de 35% dos medicamentos descobertos recentemente têm como origem a Amazónia.
Este património único está a 40 minutos de voo de Quito até à cidade de El Coca e duas horas de barco pelo rio Napo, até à cidade de Pompeya, que é a entrada deste local, controlada pelos guardas privados da petroleira hispano-argentina Repsol-YPF.
Apesar de Yasuní ter sido declarada Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco, em 1989, não é certo que se consiga compensar o governo equatoriano por não explorar futuramente as jazigas de petróleo. E, se assim for, esta reserva será fatalmente destruída e toda a Humanidade estará a prazo comprometida na sua qualidade de vida e sobrevivência.
Salve-se Yasuní!

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