O valor universal da água, no que diz respeito à sobrevivência da Humanidade e à importância que tem por exemplo para as questões energéticas e da regeneração do corpo, obriga a que cada um de nós deva tomar esse recurso como finito e o preserve em todas as formas de utilização. As cidades que o têm como recurso económico e identitário devem saber potenciá-lo como desenvolvimento, contribuindo assim para o desígnio universal. Este é um espaço de estas e de outras águas. De todas as águas.

2010-04-17

Caldas da Saúde

Imagem: Buvette no balneário termal das Caldas da Saúde (in Tempo Livre, 214, p. 36)

No número deste mês da revista Tempo Livre (http://www.inatel.pt/ResourcesUser/Fundacao/tl/214.pdf), do INATEL, mais um artigo partilhado com a Helena, desta vez numa visita às “Caldinhas”:

Caldas da Saúde
O nome diz bem com o lugar. Ar puro, paisagem verdejante, águas quentes. As Caldas da Saúde oferecem um conjunto de programas de tratamento e bem-estar, tal como toda a tranquilidade que quem visita também procura.
Desde a casa dos banhos de final do século XIX até à mais recente remodelação do actual balneário, esta estância termal do concelho de Santo Tirso tem evoluído muito no sentido de fazer jus ao nome. A saúde é lema para todos os que se regeneram das doenças das vias respiratórias, reumáticas e músculo-esqueléticas.
Inicialmente sob impulso da Câmara e durante o primeiro quartel do século XX na posse de privados, estas termas dotaram-se de balneário e hotel, captando uma clientela proveniente sobretudo do norte do país.
Em 1908, o inspector de águas Tenreiro Sarzedas descreve o balneário como tendo “três banheiras de mármore para os banhos de 1.ª classe, oito de azulejo para os de 2.ª e três de cimento para os de 3.ª. Uma sala com duches de agulheta e banheira de chuva (…). Embora a água seja também usada internamente, não há buvete que a forneça, é colhida para tanto no grande depósito.” Em 1918, a publicação Águas e Termas Portuguesas dá conta de que, nesse ano, iria abrir um novo hotel, com todas as comodidades e conforto e serviço de mesa e de dietas dirigido por um afamado cozinheiro estrangeiro. As Caldas da Saúde tinham sido adquiridas por Albino de Sousa Cruz, emigrante regressado do Brasil.
À entrada dos anos 30, o Hotel das Termas é desafectado da sua função para acolher o Colégio de La Guardia, da Companhia de Jesus, quando esta, em 1932, regressou a Portugal. A Constituição de 1933 (abolindo as leis de excepção por motivos religiosos) e o decreto de 12 de Maio de 1941 (reconhecendo a Companhia de Jesus como corporação missionária) normalizaram a situação jurídica dos Jesuítas em Portugal. Nesta altura, já a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, depois de prolongados debates internos, se decidira, em 1938, pela aquisição do conjunto termal, formando a Empresa das Caldas da Saúde e remodelando profundamente o edifício do antigo Hotel das Termas para Colégio do Instituto Nun’Alvares.
Outras unidades de alojamento foram surgindo na pequena povoação e adquiridos terrenos da Quinta contígua, para alargamento das instalações, sobretudo para zonas de recreio. Em 1952, dá-se um grande incêndio no Colégio, e a reabertura ocorre quatro anos depois, com projecto de remodelação da autoria do arquitecto Fernando Távora e do engenheiro Bernardo Ferrão. Esta intervenção permitiu, entre outros aspectos, a criação de uma ampla biblioteca, incluindo uma sala de leitura envidraçada aberta para o jardim exterior. Os mesmos técnicos seriam autores também dos projectos para uma nova igreja, em planta hexagonal, inaugurada em 1964, e de um novo pavilhão de ensino.
Quanto ao balneário, teve sucessivas remodelações e ampliações que culminaram com a grande reforma inaugurada em 1994, desenhada pelo arquitecto Francisco Azeredo, com base em estudos de prospecção inovadores em Portugal e na aposta na oferta complementar ao termalismo terapêutico – a manutenção física (remise en forme) –, ao encontro de novas motivações emergentes no mercado europeu.
A sua remodelação integrou elementos antigos de fachada, paredes autoportantes e molduras em granito, bem como troços de pavimentos provenientes de diferentes épocas e objectos antigos da prática termal. No átrio de acesso às zonas de tratamento, estão em exposição peças do património termal (mobiliário, instrumentos médico-científicos, equipamentos hidrológicos e elementos arquitectónicos) utilizados anteriormente e que decoram os espaços e marcam as práticas e os rituais do banho do passado.
Em busca de novos gostos e clientes, estas termas têm procurado diversificar a sua lista de tratamentos de bem-estar. Como o “Choco-relax”, com base nos efeitos da água termal aliados aos doces benefícios do cacau. Para quem procura “esculpir” a silhueta, reduzir a celulite, hidratar e suavizar a pele e melhorar o bom-humor, tem à sua disposição este novo tratamento. E quem disse que o chocolate engorda?
É que, a propósito, as tradições gastronómicas são uma parte importante das coisas boas desta região. Na doçaria, por sinal, foram os pastéis “jesuítas” e “limonetes” que projectaram o nome de Santo Tirso e atraem um número elevado de visitantes. Aliás, os primeiros ganharam recentemente novo estatuto, com a criação de uma confraria que pretende preservar as características deste tradicional triângulo folhado, com “chapéu” de açúcar e claras, cujas origens remontam a finais do século XIX. Gozam também de muito boa fama os doces conventuais e as bolachas de Santa Escolástica, estas fabricadas pelas freiras do Mosteiro do mesmo nome, bem como as variadíssimas receitas de doces de ovos.
Além do mais, esta região é bem preenchida de outros atractivos, a descobrir, com as Caldas da Saúde a manterem uma escala pequena, aconchegante e familiar, no meio de um ambiente puro e saudável. Não será por acaso que o povo ainda lhes chama “Caldinhas”. E seguramente, para manterem estas características verdadeiramente competitivas, também elas devem cuidar de si próprias.
Jorge Mangorrinha e Helena Gonçalves Pinto
(in Tempo Livre, 214, pp. 35-37)

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