O valor universal da água, no que diz respeito à sobrevivência da Humanidade e à importância que tem por exemplo para as questões energéticas e da regeneração do corpo, obriga a que cada um de nós deva tomar esse recurso como finito e o preserve em todas as formas de utilização. As cidades que o têm como recurso económico e identitário devem saber potenciá-lo como desenvolvimento, contribuindo assim para o desígnio universal. Este é um espaço de estas e de outras águas. De todas as águas.

2010-08-29

Águas de Mel

Imagem: quarto debaixo de água, em hotel nas Maldivas

Não sei qual o lugar perfeito para a lua-de-mel, até porque acho que o que importa, essencialmente, é a companhia. Mas o ambiente ajuda, é claro! Este talvez seja, pelo menos, um dos mais originais e arrojados ambientes para esse efeito, ou seja, um quarto rodeado de água e peixes. A inovação partiu de um hotel, nas Maldivas, em pleno Oceano Índico, pertencente à cadeia internacional Hilton, que, a propósito do seu 5.º aniversário, construíu a suíte nupcial numa redoma de vidro acrílico transparente de alta resistência. A suite tomou o nome de Ithaa (pérola), onde antes, aliás, já era algo de diferente, pois o espaço tem sido um restaurante do próprio hotel: (http://www.hiltonworldresorts.com/Resorts/Maldives/dining_entertainment/ithaa.html#Maldives++++Maldives).
Para realizar este edifício subaquático, a empresa MJ Murphy Ltd, da Nova Zelândia, recorreu à tecnologia usada na construção de grandes aquários marinhos.
As Maldivas são compostas por mais de mil ilhas, embora apenas cerca de 200 sejam habitadas. O acesso a este compartimento a 5 metros debaixo da água, com 5 metros de largura por 9 de comprimento, é feito por uma escada em caracol, para se confrontar com uma paisagem exótica, onde se movem peixes multicolores de várias espécies, e até tubarões.
Mas, será que, nessa noite, alguém liga a estes tubarões, tão inofensivos?

2010-08-28

O Paradoxo da Água

Imagem: logótipo de Saint-Gervais-les-Bains

Surpreendentemente, outras águas podem pôr em risco a sobrevivência de uma estância de águas francesa. Efectivamente, um lago até agora escondido nas montanhas ameaça a vila de Saint-Gervais-les-Bains, que fica junto do Monte Branco, o ponto culminante dos Alpes. A vila tem 3.000 habitantes e é frequentada por aquistas e alpinistas. O volume de água deste lago é equivalente a 26 piscinas olímpicas, ou seja, cerca de 65.000 metros cúbicos de água, o suficiente para produzir uma tromba de água e destruír tudo à volta, durante 15 a 30 minutos. Por isso, estão a ser colocados tubos que deverão descer a 80 metros de profundidade para drenar o primeiro foco de água. As temperaturas mais elevadas podem ter contribuído para a criação do lago, mas uma recente onda de frio foi responsável pelo congelamento nas rotas naturais de drenagem da montanha.
Não deixa de ser paradoxal que a água, como elemento fundamental para a economia desta terra, quer seja pela água mineral natural para utilização terapêutica, quer para recreação na neve, possa fazer perigar, de súbito, a integridade física, humana e de todas as espécies vivas aí existentes.

2010-08-27

Talassoterapia: a Cura que vem do Mar (2)

Imagem: Projecto para Centro de Talassoterapia em Crikvenica, Croácia, ateliê Randic-Turato (http://www.randic-turato.hr/)

"A Cura que vem do Mar" foi o título da minha intervenção num encontro científico realizado, em 2008, em Peniche. Hoje, uma nova conversa acerca desta temática levou-me a recordar o que dissera nesse II Congresso Internacional de Turismo de Leiria e Oeste e, há meses, registara neste blog, ou seja, que "a talassoterapia é a utilização combinada da água do mar e das substâncias dela extraídas e das técnicas associadas. Internacionalmente, os centros e institutos de talassoterapia têm evoluído no sentido de se dotarem de uma oferta qualificada e diversificada, potenciando a localização junto ao mar. Portugal é um território privilegiado, reunindo as condições que um centro de talassoterapia exige no processo de valorização das fontes marinhas como forma de terapia e de utilização turística" (http://aoencontrodasaguas.blogspot.com/search/label/talassoterapia). E os municípios de vocação marítima têm condições para apostar num cluster associado ao mar, onde se insira o desenvolvimento da talassoterapia, numa perspectiva de saúde e bem-estar, envolvendo nele, também, a iniciativa privada. Os estudos a montante devem reflectir sobre as melhores opções estratégicas e acções futuras, bem como enquadrar o tema no desenvolvimento do Turismo de Saúde e Bem-Estar, produto estratégico para Portugal, bem como no cluster da Economia do Mar, numa perspectiva de sustentabilidade do território e dos destinos turísticos.
Noutros países, já há muito que se aposta neste sector e em projectos arrojados de arquitectura. Em 2005, para Crikvenica, o ateliê croata de arquitectura Randic-Turato (http://www.randic-turato.hr/), localizado em Rijeka, idealizou um centro de piscinas talassoterápicas, com base num edifício de dupla espiral, com grandes extensões de relva a formarem um parque na cobertura (http://www.thalasso-ck.hr/). Aí, já existe, desde 1895, um hospital especializado. Trata-se de um local com clima temperado, ampla vegetação mediterrânica, altos níveis de iodo e largas praias, propício para terapias com recurso ao mar e ao clima, ou seja, para doenças do foro reumatismal e respiratório. Um exemplo de como as águas da costa marítima são aproveitadas para a saúde.
E tanto mar que há em Portugal!

2010-08-26

Parque Mayer

Imagem: Parque Mayer, in jornal Público, de 1 de Julho de 2010

Almocei uma vez mais com o meu amigo Jorge Trigo, o que antecedeu uma reunião, breve, na Videoteca Municipal de Lisboa, para o desenvolvimento dos documentários sobre o 5 de Outubro, no âmbito das comemorações municipais do Centenário da República, cuja exposição abrirá no início de Outubro, nos Paços do Concelho.
Claro está que, para além da República, salta sempre em conversa o Parque Mayer, uma das paixões do Jorge, autor da sequência de livros sobre a história deste importante ícone da cidade de Lisboa e dos quais se espera para breve um 4.º volume.
A sobrevivência do Parque Mayer deve-se a todos aqueles que lhe têm feito uma história de quase um século: actores, autores, músicos, coreógrafos, cenógrafos, guarda-roupas, empresários e público. Mas, destes, importa reconhecer a notabilíssima acção do empresário e produtor Hélder Freire Costa, no Teatro Maria Vitória (http://www.teatromariavitoria.com/), dando continuidade a um tipo de espectáculo que tem sofrido de muitas incompreensões, mas sobrevivido graças ao empenho de muitos, a começar pelo seu produtor, que conheço e de quem tenho uma imagem de grande afabilidade.
Tal como li há dias no Jornal de Notícias, "em Portugal, o teatro de revista tem três sinónimos: Parque Mayer, Teatro Maria Vitória e Helder Freire Costa".
Depois de “Agarra que é honesto”, no Parque Mayer prepara-se mais um espectáculo de crítica social e política, intitulado "Vai de e-mail a pior", num espaço que já conheceu quatro teatros e apenas tem um a funcionar. O Parque Mayer existe desde os "loucos anos 20", sobrevivendo à censura do Estado Novo, à rádio, ao cinema, à televisão, ao futebol, ao pós-25 de Abril, às telenovelas e até a quem, na mesma área, também gostasse de o ver acabado.
Acho que o Jorge ainda vai escrever muitas páginas sobre as estórias que o futuro trará ao Parque Mayer.
Aproximando-se o período de discussão pública sobre o Plano de Pormenor do Parque Mayer, espero que se não meta (mais) água neste caso, que o teatro continue a ser o protagonista do espaço e que se cumpra, também, a necessidade de analisar este sítio, geológica, geotécnica e hidrogeologicamente, com a realização de estudos específicos, para se obter informação mais pormenorizada, designadamente sobre a existência dos lençóis freáticos do seu subsolo, antes da proposta final e do avanço das obras.
A cidade, as suas tradições, o seu turismo e o teatro merecem!

A Ver o Mar: a Casa das Mudas

A edição de Agosto da revista norte-americana Vanit Fair publicou o resultado das questões que colocou a 52 especialistas de todo o mundo acerca das maravilhas da arquitectura moderna, para além de lhes ter pedido para escolherem o mais significativo trabalho de arquitectura criado até agora no século XXI. Este prémio recaíu para o Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, na ilha da Madeira (http://www.centrodasartes.com/Default.aspx).
Trata-se de um edifício já antes premiado internacionalmente pela sua arquitectura e em perfeita integração na paisagem, que conta agora com mais este reconhecimento. Junta-se a distinções como o “Prémio Secil 2007”, o “Prémio Europeu da Arquitectura - Prémio Mies Van der Rohe 2005”, o “Prémio Ibérico de Arquitectura FAD 2005”, o “Prémio Enor Portugal 2005 - 1ª Edição” e o “Prémio de Arquitectura “Barbara Cappochin” 2005”.
As águas foram certamente inspiradoras da arquitectura de Paulo David. Esta ergue-se numa falésia em queda, ou o fim da terra sobre aquela imensidão de mar, a senti-lo e a vê-lo tão perto!

2010-08-25

Salve-se Yasuní!


A nossa sobrevivência como Humanidade depende da salvaguarda de áreas ambientais localizadas muitas vezes longe das nossas residências. Mas acontece que algumas estão em perigo, tal como a região de Yasuní, na Amazónia equatoriana, o local de maior biodiversidade do planeta, com 982.000 hectares. A sua sustentabilidade depende de um plano que visa manter inexplorado o petróleo existente neste gigantesco jardim. É o meu alerta a todos que possam, de alguma forma, referir-se nos seus espaços próprios ou acedam a http://www.sosyasuni.org/en/index.php, a favor desta reserva ambiental e contra a exploração petrolífera, provada que está a incompatibilidade.
O parque Yasuní estende-se pela margem leste da selva amazónica, entre as províncias de Orellana e Pastaza, e é o habitat de 150 espécies de anfíbios, 121 de répteis, 596 de aves, 200 de mamíferos, 500 de peixes e 4.000 de plantas, muitas endémicas.
Com elas, convivem os Tagaeri e Taromenane, dois últimos povos indígenas em isolamento voluntário no Equador, um dos 12 países com maior biodiversidade do mundo, que propõe manter 20% de suas reservas petroleiras debaixo da terra como uma contribuição contra o aquecimento global.
Quem já lá foi, no que diz respeito a cientistas, conta que existem sons mágicos, numa bolha de bosque quase intacto, apesar de já ter sido afectada parcialmente pela exploração de petróleo. A diversidade desta região é, segundo dados científicos, a maior do planeta. Um único hectare abriga 655 espécies vegetais, mais que o total de árvores nativas de Estados Unidos e Canadá. Uma única árvore de 60 centímetros de diâmetro pode armazenar uma tonelada de carbono, o que equivale às emissões de 500 carros durante um ano. Sabe-se como cerca de 35% dos medicamentos descobertos recentemente têm como origem a Amazónia.
Este património único está a 40 minutos de voo de Quito até à cidade de El Coca e duas horas de barco pelo rio Napo, até à cidade de Pompeya, que é a entrada deste local, controlada pelos guardas privados da petroleira hispano-argentina Repsol-YPF.
Apesar de Yasuní ter sido declarada Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco, em 1989, não é certo que se consiga compensar o governo equatoriano por não explorar futuramente as jazigas de petróleo. E, se assim for, esta reserva será fatalmente destruída e toda a Humanidade estará a prazo comprometida na sua qualidade de vida e sobrevivência.
Salve-se Yasuní!

2010-08-23

Moliceiros

Imagem: pormenor de moliceiro, [Zé Ventura], in Águas Mornas (http://zeventura.blogspot.com/)

Zé Ventura, dinamizador do blog Águas Mornas, das Caldas da Rainha, é o novo seguidor do nosso. Também eu sou frequentador do Águas Mornas, e o seu último post traz-nos belas imagens de moliceiros da ria de Aveiro: http://zeventura.blogspot.com/2010/08/os-moliceiros-da-ria-de-aveiro.html
Segundo rezam as notícias, pelo passeio, junto às margens da ria, circulam este ano muitos turistas, portugueses e estrangeiros, estes principalmente espanhóis. Porém, a venda de passeios de moliceiro transformou-se numa área de insultos e agressões entre dois dos três operadores, já que uma nova empresa ainda não está licenciada. Parece que vale tudo para angariar clientes, vendendo viagens de 5 euros a 2, e mesmo grátis. Enfim, salve-se as fotos do amigo Zé Ventura que, presumo, nada tenha pagado para as obter. Águas pouco mornas, para os lados de Aveiro!

2010-08-19

¿Qué tiene el agua del río?

Ilustração de Federico García Lorca, Poeta NY

Hoje, navegamos na alma profundamente aquática de Federico García Lorca, fuzilado a 19 de Agosto de 1936, como há pouco me fez recordar um amigo: “guardemos um momento de silêncio no coração!”.
¿Qué tiene el agua del río
esta tarde tan sentida
que parece que mirando
al claro cielo suspira?

2010-08-18

Gare do Oriente

Esta noite, jantar agradável no restaurante panorâmico do Hotel Tivoli Tejo, na companhia de Helena e Fernando Rios, depois da passagem deste nosso amigo pelas águas do Brasil, durante os últimos dois anos. Para além disso, foi uma oportunidade para rever das alturas o (denso) Parque das Nações. O olhar prendeu-se num pormenor da magnífica estrutura da gare desenhada por Calatrava.

2010-08-16

O Clima das Caldas

Há 100 anos, contava-se que milhares de pessoas iam fazer a «estação de verão» nas Caldas da Rainha, onde a Sociedade Propaganda de Portugal criou um posto meteorológico. De facto, ainda hoje o clima da região das Caldas é mais suportável nesta época do ano do que em qualquer outro ponto do país. E sobre este assunto registe-se o seguinte excerto, com base numa entrevista dada, em 1914, pelo matemático, jornalista e publicista António Cabreira ao deputado Ribeiro de Carvalho [ortografia da época]:

«- Lemos algures que o meu amigo fizéra uma comunicação, na Academia de Sciencias de Portugal, sobre o clima das Caldas da Rainha. É certo?
- É certo, meu caro Ribeiro de Carvalho.
- Deu-se então bem naquela estação?
- Admiravelmente. Nem na Suissa ainda passei tão bem.
- Fez algum tratamento? Aproveitou-se das inalações?
- Limitei-me a respirar o magnifico ar; e foi, precisamente, o efeito colhido por esse simples processo que sugeriu o meu trabalho.
- Diga-me então alguma coisa sobre o assunto.
- Da melhor vontade. Eu era extremamente atreito a constipações que degeneravam quasi sempre em bronquites com febre e dificuldades de respiração. Para ter esse mal, bastava qualquer corrente de ar ou apanhar um pouco de humidade, pois, nas Caldas, suportei sem o mínimo abalo, esses dois terriveis inimigos da minha saude. Devo ainda acentuar que, anteriormente, raras vezes sentia o ar descer até á base dos pulmões. Desde, porém, que experimentei a influencia d’aquele privilegiado clima, o oxigénio passou a visitar-me o sangue com maior assiduidade».

2010-08-14

O Preço da Água

A propósito da questão relacionada com o aumento do preço da água potável, parece que há uma directiva comunitária que vai no mesmo sentido da entidade reguladora em Portugal, que é procurar que os custos sejam suportados pelo consumidor, até por uma questão de concorrência em termos comunitários.

"42% de aumento no preço da água ao domicilio é uma brutalidade que só tem paralelo com o que se passou em Portugal no tempo dos Filipes, com o imposto conhecido como o “real da água” que os portugueses tinham que pagar à coroa espanhola para financiar o simples facto de se ir buscar águas às fontes naturais e/ou públicas. O problema da União Europeia e o do Euro, é que os portugueses pagam que nem alemães, e ganham que nem marroquinos. Para isto, mais vale sair do Euro e vivermos a nossa própria realidade. Esta coisa de a gente obedecer às leis da concorrência, num mercado onde os rendimentos excluem a concorrência e funcionam à margem dela, é a maior falácia da União Europeia."

Concordo plenamente!
Mas também são essenciais comportamentos de poupança deste recurso vital e já finito.

2010-08-12

Há 20 Anos, um Mar de Esperança

Imagem: Dmitriy Shostakovitch, official postcard

Hoje é o Dia Internacional da Juventude. A este propósito, é bom lembrar o primeiro dos grandes projectos comemorativos dos Descobrimentos Portugueses, que foi lançado, há 20 anos, pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, desafiando as autarquias portuguesas a realizarem um concurso literário entre os jovens até aos 25 anos. O objectivo foi juntar no “Cruzeiro Europa Jovem” um representante de cada concelho, através do concurso subordinado ao tema “Descobre a Tua Terra”, também a propósito do Ano Europeu do Turismo. Tive o grato prazer de ter sido escolhido como representante das Caldas da Rainha, para uma memorável viagem de partilha dos aspectos que uniam os jovens portugueses nesse tempo.
Eu acabara no Verão desse ano o curso de Arquitectura. Concorrera com um texto onde propunha um percurso pelos aspectos históricos e culturais do centro urbano das Caldas, captando o pormenor ou chamando a atenção para as praças e as ruas, nunca deixando de referir os actores principais da urbanidade, que são afinal as pessoas que melhor traduzem a história e a vida de um lugar. Já nessa altura, este centro urbano era questionado acerca das suas memórias versus novas intervenções.
O "Cruzeiro Europa Jovem" reuniu, de 22 a 28 de Agosto de 1990, mais de 300 jovens do continente e ilhas, bem como convidados que representaram as associações juvenis e as juventudes partidárias. A viagem decorreu a bordo do paquete soviético Dmitriy Shostakovich, cuja tripulação era originária daquele pais, num mundo estranho e desafiante no meio do mar, entre Lisboa, Casablanca, Las Palmas e Funchal.
O nome provém do compositor russo (1906-1975) que apesar de trabalhar para o governo estalinista sofreu deste a opressão e diversas tentativas de censura, continuando a lutar pela independência artística até ao fim da sua vida. Sem dúvida, um bom tónico para nós que tínhamos alcançado, por via das artes da escrita, este cruzeiro e esta viagem.
No cais da Rocha do Conde de Óbidos, à partida, as famílias juntaram-se. Vinham de todos os lados do país para assim se despedirem daqueles para os quais, certamente numa grande parte, era a sua primeira grande viagem, a viagem inaugural e iniciática de umas quantas coisas. A primeira imagem, logo após a entrada no navio, era a que nos juntava nos varandins, acenando, quais tropas viajando para as ex-colónias, mas com diferenças: em vez da guerra, a folia, e o “adeus até ao meu regresso” era daí a uma semana.
Logo que o navio descolou, outro ritmo de vida começou. Difícil era estar em todo o lado: a discoteca, o salão de dança, os debates, o cinema, os jogos, o exterior a ver-o-mar e as estrelas ou a dar um mergulho na piscina. Tudo menos a dormir, porque o tempo convidava a muito do novo que esta experiência permitia. As noites eram sempre longas.
Havia o perigo de os painéis de reflexão e debate poderem vir a ser pouco frequentados, mas não. Os temas para os jovens, oriundos de um país, todo ele, ali representado, eram suficientemente interessantes: os Descobrimentos, a Europa, a política e o futuro de Portugal. Lembro que, nos debates de há 20 anos, foram postas questões que revelaram preocupações que acabariam por se concretizar: “O que é que nos vai acontecer em termos profissionais, quando em 1993 se abolirem as fronteiras europeias? Precisaremos depois de emigrar para arranjar emprego? Será que os jovens vão ser ouvidos? O que é afinal a política?”
O mundo hoje em dia é diferente, mais global, e os interesses mudaram, o que por si só faz perigar os níveis de participação cidadã e pública. Esta mudança acaba até por fazer esquecer os problemas de há duas décadas, por exemplo as manifestações de jovens contra as políticas governamentais, nomeadamente na área da educação.
Entretanto, muitos dos participantes talvez já tenham tido alguma experiência política; eu, por mim, já tenho a minha conta, não sei se por agora, ou definitivamente, porque a política é mesmo a arte efémera.
Confesso que também a memória já se me escapa de pormenores sobre a experiência de há 20 anos no alto mar, dado que a vida tem dado muita volta. Consta que havia um padre a bordo, mas não dei por ele, ou pelo menos já dele me não lembro. Reza noutras crónicas que afirmou que, passada uma década, a humanidade estaria muito mais equilibrada. Mas passaram duas e acho que não.
As escalas deste cruzeiro serviram para conhecer ou reconhecer as cidades do itinerário. O porto e os cheiros de Casablanca, as ruas hispânicas de Las Palmas, a exuberância do Funchal, de que a chegada por mar ainda hoje se tornou inesquecível, apesar de previamente termos passado um troço de mar bastante ondulante que nos fez indispostos a todos. A chegada a Lisboa foi antes das 7 da manhã, depois de uma noite quase sem pregar olho, se bem me lembro! O Sol nasceu, quando se vislumbrou a terra, onde nos esperava quem estivera no primeiro dia.
Este cruzeiro foi essencialmente virado para dentro, para as pessoas que se conheceram e conviveram durante uma semana, como se não mais a vivêssemos, assim, ou jamais nos pudéssemos voltar a ver.

Assim foi, até hoje!

12 de Agosto de 2010
Dia Internacional da Juventude

"Cidade Termal"

Imagem: transcrita de http://www.openzine.com/aspx/Zine.aspx?IssueID=8601,
mas cuja editora não refere indevidamente a fonte [Sobre as águas, 1991], porque não chega referi-la na bibliografia

Por acaso, encontrei hoje na net um texto sobre as Caldas da Rainha, redigido este ano por Sara Minêz, aluna n.º 3080579, supostamente da ESAD, que para a disciplina de Design de Ambientes, do 2.º ano, escreve demasiadamente aproximado a textos meus sobre o mesmo assunto, ou seja, a questão do ser ou não ser cidade termal. A relativamente extensa bibliografia apensa em nada espelha o conteúdo do texto que é, antes de mais, uma colagem a registos históricos e a ideias com autoria expressa anteriormente. E, no fim, solta esta ideia insensata, aliás a única que considero com assinatura própria da "autora" deste texto. A ideia é: "(...) surge como possibilidade a implementação de um hotel no hospital termal (...)".
Os docentes deste tipo de disciplinas deviam ter mais cuidado, ou saber, para controlar metodologicamente estes trabalhos, incluindo a sua divulgação pública.

2010-08-11

A República, o Estoril e o Turismo



Da jornalista Paula Veran, recebi hoje a informação de que o programa Rádio República transmitiu, no passado dia 25 de Julho, o meu contributo à Antena 1 acerca das Termas do Estoril e do IV Congresso Internacional de Turismo (1911): http://ww1.rtp.pt/multimedia/progAudio.php?prog=3996&clip_wma=70617

2010-08-09

Arquitecturas da Água

Em geografias distintas, dois exemplos de grande arquitectura sob o signo da água, o primeiro como reconversão de um edificio que mantém a sua componente funcional à volta da água e o segundo como projecto ganhador de um concurso internacional recente:

Na China, inaugurou-se o maior parque de diversões aquáticas do mundo, no Cubo de Água que, antes, fora um dos palcos das Olimpíadas de 2008. No seu interior, há escorregas com a altura de sete andares, piscina de ondas, palcos, arcadas comerciais e cafés. Dentro das grandes piscinas e tanques, serão geradas ondas artificiais e inclusive um tufão nas águas profundas. De pôr os olhos em bico!

Em Lisboa, aguarda-se o início da obra da Porta de Água, o novo terminal de Cruzeiros de Lisboa, que tem o traço de João Luís Carrilho da Graça. Situado na zona de Santa Apolónia, este projecto, nas palavras do seu arquitecto, procura ser “uma oportunidade rara de repensar e questionar a relação vivencial e urbana entre a cidade de Lisboa e o rio Tejo, alvo de inúmeras propostas ao longo dos séculos, uma consequência da importância desta relação na caracterização e desenvolvimento de uma cidade que assume a sua vocação portuária natural". O novo edifício é aparentado a uma jangada e assume a função de nova porta da cidade, albergando espaços de check-in, espera, cafetarias, lojas e espaços destinados a exposições e eventos, sendo que desde logo se destaca um grande átrio de entrada, o percurso verde à sua volta e o uso da cobertura como praça elevada. De pôr os olhos em Lisboa!

2010-08-08

Évora

Imagem: Carranca. Pormenor do chafariz da Praça do Giraldo, em Évora

Neste sábado, em Évora, revi parte de dois lados familiares, graças ao casamento do Tiago e da Sandra. O Tiago Mangorrinha de Sousa tem nestes apelidos as ascendências, em simultâneo, do meu lado materno e do meu lado paterno. Ao calor da atmosfera, juntou-se o calor dos afectos, aquele que por vezes já se não sente noutros ramos familiares. Ficou a promessa de voltarmos a juntar a família Mangorrinha, dessa vez alargada a outros ramos da árvore genealógica respectiva, tarefa que eu partilharei com o José Adelino, a Judite e a Vera. Talvez, a 1 de Novembro.
E a internet tem destas coisas. Surpreendentemente, uma jovem familiar, a Susana Mangorrinha, identificou-me nesta circunstância graças à circulação de notícias e imagens nesta rede que nos põe mais perto de todos. Espero que um dia, reciprocamente, também a Susana possa ter o seu próprio destaque na internet, com os seus êxitos académicos e profissionais.
Porque dar continuidade aos elos familiares é como água, que é vida, e corre no seu ciclo infinito, alimentando as raízes da memória, já hoje, uma volta pelo centro histórico de Évora e o registo, aqui, de uma imagem de pormenor do chafariz da Praça do Giraldo, depois de finalizados já este ano os trabalhos de recuperação e restauro, aliás extensivos aos restantes chafarizes e fontes de Évora. Este chafariz constitui um dos principais monumentos da cidade. Foi construído sob a traça do arquitecto Afonso Álvares, na segunda metade do século XVII, sendo a data mais provável da sua execução o ano de 1571, em mármore branco rematado por uma coroa de bronze. Segundo a tradição, as oito carrancas correspondem às oito ruas que desembocam na praça.

2010-08-06

O Turismo e a Saúde

O Curso de Pós-graduação em Turismo de Saúde e Saúde no Turismo é inédito e pretende contribuir para a formação técnico-científica no binómio saúde e turismo, duas áreas intimamente ligadas, quer no que diz respeito à saúde no turismo, quer na perspectiva do turismo de saúde.
Na primeira área, consideram-se todas as situações em que os profissionais de turismo devem estar preparados para actuar no domínio da saúde, designadamente ao nível da prevenção e informação, seja no turismo de aventura ou em deslocações para locais exóticos, ou na prestação de cuidados imediatos, em qualquer situação de emergência que ocorra. Insere-se, também, nesta primeira área a possibilidade de oferecer pacotes turísticos a indivíduos com patologias que, à partida, limitam as suas possibilidades enquanto turistas.
Uma segunda área refere-se aos territórios onde o enfoque é dado numa vertente de promoção da saúde, designadamente, termas, spas integrados e centros de talassoterapia.
Assim, acredita-se que a frequência deste Curso acrescentará conhecimento teórico e prático e valor curricular aos participantes, na medida em que constitui uma abordagem enriquecedora da sua actividade profissional e/ou do seu currículo académico, em áreas com elevado potencial de desenvolvimento.
O Curso é organizado pelo Centro de Estudos do Turismo e decorrerá na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Para mais informações: http://www.eshte.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1653&Itemid=548

2010-08-03

Águas que não passam mais

Palavras profundas de um Amigo, hoje recebidas:
"O tempo passa e a vida segue nesse o seu caminhar biológico. Que esse deixe memórias e empenhos (...) vi que o tempo biológico de um teu significante continua agora no espírito.
Sei que nesse a leveza do ser carrega a dor."

2010-08-01

Pedra de Lavar

Há mais de 70 anos que esta é a pedra que perdura no antigo tanque de lavar a roupa, no quintal da casa dos que partiram em tão curto espaço de tempo, em Montes Velhos.
O meu adeus!

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