O valor universal da água, no que diz respeito à sobrevivência da Humanidade e à importância que tem por exemplo para as questões energéticas e da regeneração do corpo, obriga a que cada um de nós deva tomar esse recurso como finito e o preserve em todas as formas de utilização. As cidades que o têm como recurso económico e identitário devem saber potenciá-lo como desenvolvimento, contribuindo assim para o desígnio universal. Este é um espaço de estas e de outras águas. De todas as águas.

2010-07-11

Madrid (2)


É o dia em que todos os espanhóis se orgulham pelo feito conseguido pela primeira vez na sua história. Há dias, Madrid era uma cidade que começava a vibrar com o feito dos seus jogadores, ao mesmo tempo que mantinha o cosmopolitismo de sempre e as atracções que a fazem uma cidade única, uma cidade que sabe viver a rua, uma cidade que nos dá tanto que quase faz esquecer o seu cinza urbano e o cheiro a dióxido de carbono das avenidas mais intensas, porque ao contrário de Lisboa o vento não corre. Selecciono Madrid em 10 dos meus passos de há dias, muitos outros ficam no meu álbum de imagens.



1. O Terminal 4 do Aeroporto de Barajas é uma das obras mais recentes e interessantes desta tipologia arquitectónica (Estudio Lamela e Richard Rogers Partnership, com os engenheiros da Initec e da TPS), aberto em Janeiro de 2006, onde o aço, o bambu, o desenho curvilíneo da cobertura e a funcionalidade são protagonistas. Trata-se de um aeroporto capaz de concentrar operações e ligações com funções distributivas múltiplas e de ser utilizado eficazmente pelas companhias aéreas para conectar os voos continentais e transoceânicos, num grande ponto de conexão entre Europa e América.



2. Há os escritores de todas as épocas e as livrarias que vendem dos mais antigos aos mais recentes livros. Percorremos de tudo. Esta era a casa de Cervantes, em Madrid. Numa das ruas do Bairro de Las Huertas, a referência ao poeta não passa despercebida, mesmo estando ao nível de um primeiro andar. Depois de uma vida atribulada, Cervantes começou a escrever a sua principal obra, O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha, já no início do século XVII, quando esta era a sua residência na capital e que foi sua até à morte. Este Bairro é um poço de cultura. Na Calle de las Huertas, há no chão inscrições de frases de autores que viveram em Madrid, como Cervantes.



3. Nas maiores livrarias de Madrid, homenageia-se José Saramago. Não era difícil ver nas mãos dos compradores espanhóis um livro do escritor português, muito querido em Espanha. Acerca do Iberismo, lembro as suas palavras de há precisamente três anos: “Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos. (…) Culturalmente, não (…) Observamos um conjunto, que não está partida [a Península Ibérica] em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural.” (DN, 15 de Julho de 2007)



4. Os cafés são lugares de escritores e de artistas. Madrid tem o Café Central, à entrada do Bairro de las Huertas, no número 10 da Plaza del Ángel. Ao almoço, come-se maravilhosamente, e barato se se escolher o menu do dia, preparado pelo afamado cozinheiro Rolando Pagtakhan, ao som do jazz, gravado ou à noite ao vivo. Desde 1982 que uns amigos alugaram o espaço, onde tinha existido desde 1908 uma das maiores lojas de objectos de vidro, cristal e espelhos. Até à actualidade, por ali passaram muitíssimos grupos de jazz. A não perder! A voltar, sempre!



5. Desde o Café Central para nascente, atravessando o Bairro de las Huertas, chegamos à zona dos grandes museus madrilenos. Desta vez, as exposições temporárias “Ghirlandaio e o Renascimento em Florença” (Museo Thyssen-Bornemisza) e “Turner e os Mestres” (Museo Nacional del Prado). No primeiro caso, é deslumbrante a obra destes mestres florentinos, onde se destaca o “Retrato de Giovanna degli Albizzi Tornabuoni”, de Domenico Ghirlandaio, a principal imagem icónica da sua obra e desta exposição, onde também tem destaque o “Retrato de uma jovem”, da colecção do Museu Calouste Gulbenkian. No segundo caso, uma das proposta actuais do Museo Nacional del Prado é a exposição em que J.M.W.Turner é o pretexto para trazer os seus mestres oitocentistas, precursores da modernização da pintura de paisagem. Entre o Thyssen e o Prado, não esquecer almoçar no excelente restaurante do primeiro.



6. Paragem ainda no Museo Reina Sofía, para ver a exposição “Novos Realismos 1957-1962: estratégias do objecto, entre readymade e espectáculo”. Esta exposição define-se como um marco temporal, onde se fez transformações experimentais profundamente estratégicas e influenciadoras para a produção artística. Tratou-se de um curto período em que o pop e o minimal, com a utilização do realismo de objectos comuns e quotidianos, irromperam, sujeitos a intensas críticas, mas que marcariam o fim do modernismo e o início do pós-modernismo (imagem: “Bebida Loca”, 1960, Corice Arman, caixa com caricas).



7. Este ano, La Gran Via perfaz 100 anos. As obras começaram a 4 de Abril de 1910, com a presença do rei, depois de largos anos de projecto para demolições e novos edifícios. É uma das principais artérias de Madrid, entre a Calle Alcalá e a Plaza de España. Ao seu esplendor arquitectónico, associa-se também a vibrante vida comercial e turística. Tem, para além de tantas lojas de marca, uma das maiores livrarias de Madrid, a Casa del Libro, criada em 1923. A Calle La Gran Via é o traço de separação entre duas das mais frequentadas zonas de Madrid, a dos Preciados e o Bairro de la Chueca. O comércio deste último é mais surpreendente, embora nos pareça que ainda é à volta da primeira que muito comércio popular se instala e vive.



8. Na bifurcação da Gran Via com a Calle Alcalá, o Circulo de Bellas Artes é um espaço para exposições, teatro, sessões de música ou simplesmente tomar um café ou uma água mineral. O Circulo foi fundado em 1880 e desde 1921 está declarado “Centro de Protección de las Bellas Artes y de Utilidad Pública”. É um dos centros privados de criação, difusão e gestão cultural mais importantes de Espanha. Tem patente as exposições: “PhotoEspaña 2010. László Moholy-Nagy. El Arte de la Luz”, até 29 de Agosto, e “Madrid, Oh Cielos!”, até 5 de Setembro.



9. O Mercado de San Miguel, perto da Plaza Mayor, é um edifício desenhado pelo arquitecto Alfonso Dubé y Diez e inaugurado em 1915, inspirado estilisticamente em mercados europeus, como o de Las Halles, em Paris. Foi intervencionado recentemente para ser um centro de comida tradicional. É muito interessante a reconversão, mas é preciso ter alguma paciência, em horas de ponta, quando turistas e madrilenos se aglomeram junto das bancadas em busca de uma cerveja refrescante ou dos diversos petiscos.



10. Em contrapartida, preferimos o Lateral, restaurante madrileno onde melhor se servem as tapas, localizado em cinco pontos diferentes da capital. Desta vez, repetimos a sala da Plaza de Santa Ana. Tem um senão: para grupos, é desconfortável para os clientes a optimização do espaço por parte da gerência. Mas as tapas são insubstituíveis!

Hasta la vista!

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